Biblioteca Municipal Rocha Peixoto

ABEL VARZIM da Cunha e Silva nasceu na freguesia de Cristelo, Barcelos, no dia 29 de Abril de 1902 e faleceu em 20 de Agosto de 1964. Filho de mãe poveira, Adelaide Varzim da Cunha e Silva e de Adelino da Costa e Silva, foi um autêntico e verdadeiro poveiro pelo coração e pelo sentimento, aqui tendo vivido parte da sua vida.

Ordenou-se sacerdote em 29 de Junho de 1925, tendo cantado a Primeira Missa (Missa Nova) na Matriz da Póvoa de Varzim, no dia 3 de Julho de 1925.

Foi professor, ecónomo e director do Seminário de Beja, até 1930, e pároco de Serpa, onde fundou o primeiro grupo de escuteiros do Alentejo, passando depois a frequentar a Universidade Católica de Lovaina (Bélgica), tendo-se doutorado na Faculdade de Ciências Políticas e Sociais, em 1934, defendendo a tese “Le Boerenbond belge. L’oeuvre du relèvement et de la grandeur de la classe agrícole d’un pays” .

Regressado a Portugal, ajudou a fundar a Rádio Renascença, coadjuvando o seu grande amigo Monsenhor Lopes da Cruz. Foi obreiro incansável da Liga Operária Católica (LOC) e da Juventude Operária Católica (JOC). Desempenhou também os cargos de Director do Secretariado Económico-Social e Professor do Instituto do Serviço Social. Foi ainda deputado à Assembleia Nacional de 1939 a 1942. A sua atitude de intransigente defesa dos mais elementares princípios da moralidade cristã, acarretou-lhe certa animosidade de alguns poderes então constituídos.

Tornou-se notável a sua acção doutrinária no jornal “O Trabalhador”, que fundou, assim como a Editorial “S.E.T.”. Chefiou a redacção da “Lumen”, revista do clero, e publicou o boletim de informação bibliográfica “Cultura”.

Em 1951 tomou posse de pároco da freguesia da Encarnação (Lisboa), onde desenvolveu intensa e notável acção social, particularmente junto das classes mais desfavorecidas, tendo fundado um Centro de Recuperação de raparigas caídas na maior miséria moral, cargo que exerceu até 1956, data do agravamento dos seus padecimentos cardíacos.

Conferencista notável, fez-se ouvir em muitas partes de Portugal e dedicou-se à alta formação do clero.

Foi vasta a sua colaboração na revista “Renascença”, do diário lisboeta “Novidades” e no portuense “Jornal de Notícias”.

Nos últimos anos da sua vida fundou, no Porto, uma obra de regeneração de mulheres, denominada “Instituto de Sant’Ana”, continuação da obra já iniciada em Lisboa. O Dr. A. Freire referiu-se ao Padre Abel Varzim como “O Apóstolo das prostituídas”.

Em 1974 a Câmara de Barcelos prestou uma homenagem, em Cristelo, à memória do Padre Abel Varzim. Viveu exclusivamente para os pobres e os desprotegidos. Pode-se afirmar que viveu mais para os outros do que para si próprio.

Estava tão identificado com a Póvoa, que o semanário local “Idea Nova” de 5 de Maio de 1934, ao referir-se ao seu doutoramento, escreveu: “Acaba de concluir o seu curso de Sciências económicas, políticas e sociais na Universidade de Lovaina (Bélgica) o nosso ilustre e prezadíssimo amigo e conterrâneo rev. Abel Varzim…”. Ora aqui há lapso, pois Abel Varzim nasceu em Cristelo (Barcelos) e não na Póvoa de Varzim; mas para muita gente era poveiro pelo nascimento, embora o fosse só pelo coração, tendo sido muito grande a sua ligação afectiva e familiar à Póvoa de Varzim.

Nos jornais poveiros encontram-se muitas referências a Abel Varzim e no semanário “Idea Nova” de 10 de Agosto de 1935 publicou-se uma linda Salvé-Rainha, em verso, do Padre Silva Gonçalves, dedicada ao Padre Abel Varzim.

Monsenhor Moreira das Neves escreveu sobre a vida e obra de Abel Varzim, concluindo Abel Varzim, afinal, era poeta. De facto, foi-o, e muito apreciado em alguns dos seus pouco conhecidos mas belíssimos e inspirados sonetos.

Da sua bibliografia, destaca-se “O Dever Social” (conferência – 1941) , “Comunismo” (1949), a sua tese de doutoramento, já referida, impressa em Paris em 1934, “Procissão dos Passos, uma vivência no Bairro Alto” (2002).

Jorge Barbosa – Toponímia da Póvoa de Varzim, Vol. V, 1991, pp. 230-233.