Colóquio "Rocha Peixoto no centenário da sua morte"
8 e 9 de Maio de 2009
Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim

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Dr. Luis Martins
Palavras, temas e itinerários nos cadernos de Rocha Peixoto
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Resumo

Os cinco cadernos de campo de Rocha Peixoto parecem corresponder a duas fases distintas. Em dois deles temos escritos, relativamente extensos, que resultaram da excursão realizada com Ricardo Severo, em Dezembro de 1890, a fim de estudarem as actividades marítimas na foz do Rio Mondego e Lagoa de Cochim, Lagoa de Óbidos e Ria de Aveiro. Espelhava o interesse dos seus contemporâneos pelas indústrias da pesca, ostricultura e piscifactura. Neste ano iniciara-se a publicação da Revista de Siencias Naturaes e Sociaes (1890-1898), dirigida por ambos e por Wenceslau de Lima.

Não há anotações de 1891 a 1895. O Caderno nº 1, Notas e Desenhos – Ethnographia e Arqueologia, que começa em Janeiro de 1896, dá origem a um novo estilo. Os registos são curtos, em geral esquemas e desenhos, por vezes legendados, sobre materiais diversos: ferragens, ornamentos, alfaias agrícolas, grimpas. Há também transcrições de textos de ex-votos, descrições das pinturas, notas acerca da habitação rural e burguesa, apontamentos sobre azulejaria. Predominam lugares dos concelhos e povoações da Póvoa de Varzim, Vila do Conde, Ponte de Lima, Arcos de Valdevez. Não descerá a Sul dos paralelos dos concelhos da Figueira da Foz e de Montemor-o-Velho. Sobre este indica uma informação de Pedro Fernandes Thomaz sobre figurados em azulejos (Janeiro de 1896), e uma grimpa (Julho de 1898) As notas dos lugares da Figueira da Foz, mais abundantes, datam todas de Julho (1897 e 1898).

Falarei sobre a organização destes cadernos, os conteúdos e lugares que neles surgem, os itinerários que parecem emergir das datas, e o fervilhar intelectual que dá o contexto destes registos.