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| | Nota biográfica O Major António José da Mota nasceu na freguesia de Ruivães, concelho de Vieira do Minho, em 9 de Abril de 1908 e faleceu na sua residência à Rua da Conceição, 18-B, na Póvoa de Varzim, no dia 6 de Novembro de 1972.
Iniciou os seus estudos secundários nos Seminários de Braga; tendo desistido de seguir a vida eclesiástica, alistou-se no Exército onde foi subindo na escala hierárquica, graças ao seu mérito próprio, ao estudo e à sua dedicação pelo serviço, tendo atingido o posto de Major. Serviu na Unidade Militar da nossa terra, na qual exerceu o cargo de Chefe da Secretaria.
Fixado definitivamente no nosso concelho (primeiro em Nabais, onde sua esposa era professora, depois na Póvoa de Varzim), aqui lhe nasceram 6 dos seus 8 filhos. Chefe de família exemplar, bom marido e bom pai, homem de uma só Fé e com fibra de antes quebrar que torcer, soube criar e educar a sua numerosa prol dando-lhe destinos promissores. Deixou aos filhos o exemplo de um bom marido, de um devotado pai e de um modelo de educador, incutindo-lhes sempre o caminho de bem servir.
Foi o Major Mota o modelo de cidadão inteiramente devotado ao próximo – serviu sempre e nunca se serviu. Poveiro pelo coração e prestável como poucos, esteve sempre disponível para dar o seu valioso préstimo a toda e qualquer instituição da nossa terra; daí o ter passado pela direcção das mais diversas colectividades poveiras, desde que os seus serviços fossem gratuitos. Nunca aceitou cargos remunerados. De entre as muitas funções que cá desempenhou, sempre desinteressadamente, saliento a sua presidência da delegação local da Intendência Geral dos Abastecimentos, aquando do racionamento dos géneros alimentares por ocasião e no após a Segunda Guerra Mundial, cargo que desempenhou com toda a isenção e justiça distributiva, defendendo sempre as classes mais pobres e mais desfavorecidas.
Foi um dinâmico Comandante dos Bombeiros Voluntários, de 1946 a 1963.
Saliento ainda a sua acção como Presidente da Câmara da Póvoa de Varzim, cargo que desempenhou de 22 de Janeiro de 1951 a 22 de Janeiro de 1960 com tal dedicação que era frequente ser visto a qualquer hora do dia ou da noite junto dos mais modestos trabalhadores municipais, também de pá e picareta nas mãos, a ajudar e a incentivar a reparação de certas avarias nas canalizações da nossa terra e que urgia serem rapidamente reparadas.
Pouco depois de se sentar no cadeirão presidencial, queria recusar-se a assinar uma folha de processamento de algumas dezenas de escudos que legalmente lhe eram devidos, como emolumentos de multas aplicadas, alegando que nunca receberia qualquer centavo pelo exercício das suas funções. Tendo-lhe sido explicado que por lei teria de receber esses parcos emolumentos, assinou o documento com a condição de essa importância não lhe passar pelas mãos e ser entregue directamente na Beneficente. Era assim o então Capitão Mota.
Não raras vezes o pessoal de limpeza do edifício da Câmara Municipal ainda o encontrava a trabalhar, no seu gabinete, manhãzinha cedo, de madrugada ou ao arrebol da manhã, quando esse serviço era iniciado. Não tinha horário de trabalho e tirava muitas horas ao seu descanso para as dedicar de todo o coração e com todo o empenho ao serviço da Póvoa, acabando assim por prejudicar a sua saúde e encurtar a sua vida, falecendo prematuramente aos 64 anos de idade. [...]
Podemos afirmar, sem receio de desmentido, que o Major Mota viveu e sentiu intensamente todos os problemas da nossa terra, desde os mais importantes aos mais ligeiros e mais pequenos. A ele não se poderá aplicar o velho aforismo latino: De minimis non curat praetor (o pretor não trata de coisas insignificantes, como quem diz uma pessoa importante não se ocupa de ninharias).
Barbosa, Jorge - Toponímia da Póvoa de Varzim. In: Póvoa de Varzim: Boletim Cultural. Vol. XXVII , n.º 2 (1990), p. 552-553. |