José Alberto Postiga nasceu em Novembro de 1977 na Póvoa de Varzim.
Provém de uma família humilde de pescadores residente no lugar de Caxinas, Vila do Conde. É filho de Daniel Martins Postiga e de Rosa Maria Maio Pereira. Tem dois irmãos: Filipe Daniel e Sérgio Miguel.
É casado com Angélica Domingues dos Santos Postiga, com quem tem duas filhas: Bianca e Íris.
Com apenas onze anos de idade, por motivos relacionados com costumes familiares e uma exígua noção da real importância do ensino escolar, abandonou prematuramente a escola e iniciou a sua vida laboral como pescador.
Exerceu a profissão até aos 22 anos, afastando-se depois de o mar, em algumas ocasiões, lhe ter tentado roubar a vida.
O ano de 2005 levou-o até à Suíça central onde reside e trabalha até hoje, exercendo o cargo de líder de grupo na área da construção modular, para a qual se formou.
Nos anos de 2011 e 2012 regressou à escola e concluiu com aproveitamento o ensino secundário na EPVC.
Considera-se um metamorfoseado, um autodidacta, um pró-activo e um sonhador. A escrita, confessa, deixou de ser para ele um gozo e passou a ser uma necessidade.
Entre outras actividades literárias e culturais, assinou, durante o ano de 2017, uma crónica no Jornal Gazeta Lusófona direccionado à comunidade lusa residente na Suíça. E em 2018 foi membro organizador do primeiro certame cultural realizado pela diáspora portuguesa na Suíça central “Expo Cultura Lusa”.
Participou na antologia À Sombra Do Silêncio (2018), edição bilingue, português, francês.
Depois de Palavras Sem Preço (2014), O Inventário Do Sal (2017), A Litania Da Cinza é a sua terceira obra editada.
A Litania Da Cinza
Havíamos de pressentir o amor a meter-se em nós. Não o amor passivo, sentido por um filho ou um irmão. Não o amor pelo homem que nos fez ou pela mulher que nos pariu ou criou. Esse é benigno, nasce e habita em nós em contrato feito com o racional. Havíamos de antever tudo o que é inerente ao fogo de uma paixão. Para além do inexplicável arrepio, da febre alta e repentina, da fome descontrolada, do mundo que se encolhe perfeito à nossa volta… havíamos de intuir também o sofrimento a chegar. Mas não. O amor irrompe e atordoa-nos a percepção, venda-nos os olhos, ata-nos o discernimento, acende o fogo nas artérias e acampa no coração. Deixa solto o sentir e vê-o subir ao cume mais alto de nós, e depois espreme-nos de tudo o que temos para esboçar um sorriso. O amor escancara-nos a boca, fraseia-nos o coração, arranha-nos a garganta em verbos de se dizer alto e espera, e faz eco de rouxinóis poisados na vulnerabilidade dos corpos. Mas quando não é recíproco, transforma-se num vómito que dói. Num castigo que se cumpre sozinho. Num aperto sem abraço. Num silêncio que alastra no singular.
Autor: José Alberto Postiga
Obra: A Litania Da Cinza
Colecção: A Água e a Sede (Poesia)
Modocromia Editora
24 de fevereiro 2019, domingo, 17h30
na Biblioteca Diana-bar
|