| |
As Fontes
Lugar imbuído de um carácter quase mágico, a fonte assume-se, frequentemente, como sítio de referência, a que não é alheia, na maioria dos casos, a posição de centralidade que ocupa no tecido urbano, gerando e/ou adornando praças e jardins. Lugar poético e espaço de sociabilidade, a fonte é lugar de labuta e de descanso, lugar de encontro e de conversa. Pedro A. Cantero alude ao tríplice valor – funcional, simbólico e ornamental – que as fontes representavam no passado. Ao seu redor desenrolava-se, de forma intensa, a vida local, contando com a presença da água para o seu desenvolvimento económico. O abastecimento doméstico de água, feito através da ida à fonte, quando não se dispunha do poço particular, era normalmente uma tarefa feminina.
Ver mais...
No lugar do Coelheiro estava a Fonte da Bica, onde chegava o caudal recolhido nas minas do Coelheiro, Mariadeira e Bocal da Gandra. A existência da água foi, certamente, a razão para o desenvolvimento urbano daquele arrabalde que tinha o privilégio de possuir a primeira fonte de água potável onde, até à construção do aqueduto, a população da Vila se ia abastecer.
A utilização da água da Fonte da Bica deveria, em exclusivo, contemplar os usos domésticos, ficando proibido o seu gasto na rega dos campos e na lavagem da roupa, confirmando-se que a Vila, mesmo após a entrada em funcionamento do aqueduto, se debatia com problemas de abastecimento de água.
Em 1713, celebrou a Câmara o contrato com o mestre pedreiro António Moreira, da Maia, para a execução de várias obras de pedraria nesta Vila, entre as quais se contava a da “fonte da biqua”. Sobre o alcance dessa obra nada sabemos. O Tenente Veiga Leal não nos esclarece quanto ao seu aspecto, refere apenas que dela brotava a “agua mais leve e mais pura que há em terra de Beira Mar; da abundancia d’agua de que se provê todo o numeroso povo do corpo da Villa, e d’estes arrabaldes sem que nunca secasse” .
A fonte sofreu, nos finais do século XVIII, por iniciativa do Corregedor Francisco de Almada e Mendonça, obras de reconstrução, que lhe deram o aspecto com que chegou até nós. Construção de granito, compõe-se de um tanque, com chão lajeado, e uma parede rematada por frontão triangular contendo, no seu interior, um pequeno nicho; enquadra-se no tipo da fonte de chafurdo.
Segundo a tradição, nesta fonte nunca escasseou a água, muito embora em 1803 se tenham feito ouvir “repetidos clamores do povo pella falta dagoa que padecia na Fonte publica chamada de Vica de Coelheiro falta athe aqui não esprimentada” . Afinal, não passava do resultado da abertura de um poço, “novamente feito e de prezente mais afundado” , num campo vizinho, “asima da mesma fonte” . Feita a vistoria pelo Senado, e determinado o motivo de tal situação, que se traduzia num “grave prejuízo do publico pella falta desta agoa” , foi o proprietário do poço notificado para proceder ao seu tapamento no prazo de três dias, sob pena de seis mil reis. Como competia às autoridades zelarem pela qualidade da água, aproveitaram a dita vistoria para mandarem retirar uma pia de pedra que se encontrava junto a um poço, ao sul da fonte. O motivo era a proximidade em relação à fonte, já que sendo costume lavar-se “na mesma dita pia com agoa do posso” , seria “prezumível pasarem para a dita fonte alguas particulas de emondisse e corrução”, tornando a água menos própria para consumo.
Seria certamente importante o caminho que conduzia à fonte do Coelheiro, feito de “calçada de pedra”, por vezes chamado de “estrada que vay para a fonte publica”, e da sua manutenção estavam encarregues os moradores.
A Fonte da Bica sofreu, há pouco tempo, obras de limpeza e restauro ficando rodeada por um amplo espaço lajeado e ajardinado, liberto de construções.
Parte da água procedente da mina do Coelheiro foi conduzida, em calhas de pedra, até à Fonte do Ruivo, implantada, numa construção de cantaria, no lugar dos Favais. Deveria ser movimentada esta bica, de modo a justificar a “calçada” que “junto a fonte” se mandou fazer, em 1828, para permitir o “bom tranzito do povo”. Da Fonte do Ruivo, seguindo em aqueduto, a água atingia o centro da povoação.
Quem habitava no lugar da Vila Velha abastecia-se na Fonte da Moura, também designada pelo nome do sítio onde se localizava: era a “Fonte da Villa Velha”. Da sua edificação nada se sabe mas, nos meados do século XVIII, já era visível junto ao caminho que levava do casario da Vila Velha à estrada para Barreiros. Quase sempre, junto às fontes existiam caminhos, os que levavam até lá ou os que passando pela fonte, seguiam para outros destinos: era o chamado “caminho da fonte”. Quanto ao aspecto que a Fonte da Moura teria antes de 1854, quando foi beneficiada, continuamos sem nada saber.
No centro da Vila, na Praça Nova do Almada existia, pelo menos desde os finais do século XVII, uma pia e fonte, conhecida por fonte do Boído, da “qual se serve ho povo da agoa limpa”. Os “dous tanques para lavadouro de panos” que se fizeram pelos anos vinte do século XIX foram edificados no local desta fonte.
[…] Em 1825, autorizou o Corregedor da Comarca a utilização das sobras das sisas para obras públicas na Vila, contemplando-se, a par do calcetamento de ruas e beneficiação de caminhos, a manutenção das pontes e das fontes. Não conseguimos, porém, saber se houve intervenções nas fontes em resultado de tal autorização.
Como “elemento essencial do conforto humano”, a fonte necessitava de vigilância permanente para se garantir o bom estado da construção, a acessibilidade ao local e, principalmente, a pureza das águas. A limpeza das fontes públicas era assegurada pelos moradores, sob ordens camarárias. Em 1803, Manuel Gomes de Lima, morador no Coelheiro, foi intimidado para ”na formidade da sua obrigação fazer o caminho que vai para a fonte e o asude por onde passa a agoa que não haja de innudar a mesma fonte” da Bica, no prazo de um mês e sob pena de seis mil reis. No ano de 1825, o mestre pedreiro Manuel Alves foi nomeado para o cargo de guarda das águas públicas, com obrigação de limpar mensalmente os lavadouros da Praça Nova, os de Carrazedo e o tanque, bem como fazer a manutenção do aqueduto. Em 1830, o mesmo mestre foi contratado pelo Senado da Câmara para proceder à limpeza, sempre que necessária, das fontes, tanques, aqueduto e rios de lavar, pela quantia de nove mil e seiscentos reis.
Como o fornecimento público de água ao centro urbano era deficiente, numerosos eram os poços existentes nos quintais das casas que constituíam um complemento dos recursos colectivos. Abundavam em toda a zona urbana, do litoral ao núcleo antigo, não deixando porém de ser uma solução limitada, dado que pelo Verão normalmente secavam. Acompanhados da pia de pedra, muitas vezes eram de uso comum a vários vizinhos. Abrir e empedrar um poço era empreitada que, na primeira década de século XIX, andava à volta dos catorze mil reis.
Sandra Araújo de Amorim – Vencer o mar, ganhar a terra: construção e ordenamento dos espaços na Póvoa pesqueira e pré-balnear. Póvoa de Varzim: Câmara Municipal, 2004. p.289-293
FONTES E CHAFARIZES
Embora o povo (e até gente culta) não faça a destrinça entre fonte e chafariz pois tanto usa um designativo como outro, o certo é que, na minha humilde opinião, existe uma diferença.
Por fonte, no meu entender, como disse, deve considerar-se a provida de espaldar ou alçado, geralmente embutida em paredes ou no alinhamento dos prédios; e, por chafariz, o que enfeita os logradouros públicos (largos e praças), constituído, na generalidade, por uma coluna central enfiada em uma ou duas taças e um repuxo no vértice a lançar jatos de água, a qual acaba por cair nas taças e destas, por bicas firmadas nos bordos, escorre subdividida para o tanque circundante.
Será assim, como digo?
Ver mais...
Na Póvoa de Varzim, diga-se com verdade, não há, nem houve em tempo algum, abundância de fontes e chafarizes.
A Fonte do Boído, com lavadouros anexos, no lugar da mesma designação, parece ter sido uma das mais antigas, pois dela há notícias no ano de 1679. Outrossim antiga, era a Fonte do Ruivo, de cantaria, localizada ao fundo da Rua do Salvador, já no lugar de Favais, que fora demolida em 1877 ou 1878 quando construíram a via férrea Póvoa-Famalicão.
Para esta fonte, que dera o seu nome ao lugar, vinha a água conduzida do manancial do Coelheiro e, daqui, por aqueduto, seguia para a Fonte do Largo Eça de Queiroz, da qual adiante falaremos.
Além destas, é de salientar a Fonte da Bica (com o respetivo tanque) no lugar do Coelheiro, pela banda sul do Matadouro.
Com nascente própria, nunca nesta fonte faltou água potável, boa e límpida. Era tanta, que até chegava para abastecer a dita Fonte do Largo Eça de Queiroz, enquanto esta teve água proveniente do Rio Ave.
Com a exploração da mina de Terroso e atualmente com a captação da água no Ave, foi a Fonte da Bica um tanto esquecida. No entanto, ainda durante muitos anos, foi utilizada pelos poveiros e por alguns banhistas, que a preferiam pela incontestável pureza da sua água.
A frontaria desta velha fonte, construída de pedra rústica, mostra um arco de meia volta aberta na parte central e, sobre este, uma edícula (sem imagem) contida num triângulo abatido, de rebordo saliente, que serve de remate.
Presentemente, encontra-se desprezada e em vias de ruína.
Igualmente antiga, era a Fonte da Vila Velha ou Fonte da Moura, no lado norte, da actual rua Dr. Leonardo Coimbra, aproximadamente no sítio onde permanece o portão de entrada para a cerca do liceu.
Da Vila Velha, por se localizar neste lugar; da Moura, por constar que, de noite, nelas apareciam bruxas e mouras encantadas em figuras de serpentes.
Uma lenda, afinal, como qualquer outra a que os povos de outrora, algo supersticiosos, ligavam manifesta importância.
Não passava de uma vulgar cisterna, diga-se em abono da verdade, mas, o certo, é que a sua água, sobretudo a extraída de madrugada, era puríssima. Digo de madrugada, porquenta pelo decorrer do dia, a água dessa cisterna (e de todas as análogas) inquinava-se com o submergir e emergir dos cântaros ensebados e fartamente manuseados pelo uso dos seus detentores.
Essas fontes de mergulho, chafurdo ou de afoga caneco, eram constituídas por um género de casotas feitas de lajes de pedra, com fundo saibroso onde borbulhava a água sem dúvida limpa, para pouco depois se poluir com a presença dos canecos, como atrás se aludiu.
Nesta Fonte da Moura até se permitia, ao mulheria da vizinhança, a lavagem de roupas.
Em data que não consegui averiguar, derrubaram-na para de novo a construírem no ano de 1854. Em 1915, porém, quando abriram a rua de ligação entre a Vila Velha e a estrada de Amorim, então chamada Rua de Barreiros, demoliram-na definitivamente, em virtude do leito da rua ter subido, neste ponto, cerca de metro e meio.
Na Rua das Lavadeiras, houve também um Fontanário ou Cano de Água como era mais conhecido, onde os moradores das adjacências se abasteciam na preciosa linfa.
Estava incrustado numa parede e apresentava uma taça granítica bastante saliente.
O douto publicista Dr. Jorge Barbosa, acerca deste Cano de Água, diz o seguinte:
“…segundo uma planta datada de 26 de Dezembro de 1879 o cano ou fontanário (com duas bicas voltadas para o sul, lado da Rua do Pelourinho), existia no meio do topo sul da Rua das Lavadeiras, sendo de presumir que depois, por estorvar o trânsito, é que seria mudado para a parede da residência de Joaquim Martins da Costa (o Joaquim do Cano, como por esse motivo alcunharam), na parte de trás voltada para esta rua».
Chafariz da Praça do Almada. A Rainha D. Maria I expediu um aviso régio (ou provisão) dirigido ao corregedor da Comarca do Porto, Francisco de Almada e Mendonça, com data de 21 de Fevereiro de 1791 a ordenar o seguinte:
“Que no Campo da Calssada se construa huma Praça ampla para os mercados e outros logradouros da Povoação e que nella se construaõ as obras com cazas alpendoradas, árvores e hum chafariz no meyo, tudo na conformidade da Planta designada pello Tenente-Coronel Reinaldo do Oudinott”.
Este chafariz, que teve o seu pousio no sector poente da Praça do Almada, tem andado de Herodes para Pilatos.
Em 1904, por exemplo, quando inauguraram o mercado no seu actual poisadouro, removeram-no para as proximidades da Praça do Peixe, de onde foi retirado aquando da erecção do monumento ao Cego do Maio. Daqui transitou para a Praça Marquês de Pombal.
Em 1932, por efeito do ajardinamento lá efectuado, mudou para o Largo das Dores, de início junto ao dispensário do I.A.N.T., a seguir, no centro do jardinzinho fronteiro ao edifício do Hospital. Finalmente, há poucos anos ainda, fixou-se na placa ajardinada, ao sul da Capela da Senhora das Dores.
Em virtude da sua localização, tomou o chamadouro de Fonte do Largo das Dores e permanece ali, segundo creio, como elemento meramente ornamental.
O já referido historiógrafo Dr. Jorge Barbosa, num estudo publicado no Boletim Cultural da Câmara (vol. V, n.º 1, 1966, pag. 16), transcreve uma emenda que o P.e. Giesteira anotara na margem direita (pág. 55) das suas Memórias Históricas da Póvoa de Varzim (1.ª ed., ano 1851), do seguinte teor:
“Já hoje existem nesta villa quatro chafarizes: um, na Praça do Almada; outro, no Largo de S. Roque; outro, na Rua da Bandeira; e, outro, no Largo das Dores. Contudo, ainda se tornam necessários mais dous, pelo menos; um, para o lado sul, nas proximidades da Igreja da Lapa; e, outro, para o lado do poente, nas proximidades da Capela de S. José”.
Por este assento, verifica-se que no ano de 1851, além do citado Chafariz da Praça do Almada, já neste Largo das Dores existia um chafariz, bem como na mesma data havia outro no Largo de S. Roque e ainda mais outro na Rua da Bandeira.
Verifica-se igualmente que, já nessa altura, se sentia a necessidade de mais dois chafarizes: um, no bairro da Lapa, bairro assaz populoso; outro, na área da Capela de S. José.
Pergunto: chegariam a construir-se estes dois chafarizes?
Eu, com franqueza, além dos atrás mencionados e da Fonte de S. Sebastião que a seguir vou tratar, não conheço mais nenhum.
A Fonte de S. Sebastião ou Fonte do Largo Eça de Queirós data do ano de 1855 e tem duas bicas, com a seguinte legenda: De Várzea tenho a origem – 1855.
Por cima desta inscrição sobressai o brasão poveiro, de granito, e, sobre ele, como remate, uma estátua grotesca de mulher com o braço direito apoiado numa âncora que, segundo o parecer de alguns escritores, simboliza a Póvoa de Varzim.
O frontispício desta fonte, com excepção das quarnições de pedra, apresentava-se revestido de massa carapinhada. No ano de 1955, todavia, foi todo esse revestimento substituído por um artístico pano de azulejos, com figuras a representarem o enternecedor passo bíblico da Samaritana a dar de beber ao Senhor, execução primorosa de Duarte Meneses, hábil desenhador da Fábrica de Cerâmica do Carvalhinho, nas Devezas, Vila Nova de Gaia.
Foi este azulejamento, que sobre-maneira alindou a fonte e valorizou o local, oficialmente inaugurado em 15 de Maio de 1955, data do seu centenário.
Tem a Fonte do largo de Eça de Queirós, duas bicas ligadas à rede geral da cidade, alimentadas com água do Rio Ave e, nos primeiros anos, possuía no lado sul e a ela contíguo, um tanque sobre o comprido aonde o gado ìa dessedentar-se.
Sobre o nome genérico de fontes, designam-se as naturais, isto é, as das nascentes, porquanto há as artificiais, que são as destinadas à distribuição de água públicas ou particulares.
As fontes das cidades e vilas, têm ainda a denominação de chafarizes, fontanários e fontes monumentais ou decorativas.
Os chafarizes, aí pelos séculos XVI e XVII, considerados como ornamento de luxo, tiveram a sua época áurea, muito em especial os dos claustros monásticos, alguns de rara beleza.
Os fontanários de pedra ou de ferro fundido, normalmente possuem torneiras metálicas em vez de bicas.
As fontes decorativas, como o nome indica, apenas servem para adorno de praças públicas.
Na Póvoa, que saibamos, temos, pelo menos neste género, a graciosa e decorativa Fonte do Passeio Alegre (no jardim aonde se ergue o busto do Cego do Maio) e, de certo modo, a Fonte do Largo Eça de Queirós.
Para conclusão, informarei que as poucas fontes existentes estão assim a modos que abandonadas, o que não admira se atendermos a que quase toda as casas da cidade, desde há muito, desfrutam o óptimo, o excelente benefício da água encanada.
Horácio Marçal – Fontes e Chafarizes, in: “A Voz da Póvoa”, (23.Junho.1983), p. 8-9.
FONTES ENCANTADAS ESTÃO ABANDONADAS
“As fontes exercem sobre o imaginário coletivo um estranho fascínio. Por um lado, a água, bem essencial, buscada com afã, levada em cântaros e bilhas para os lares, matando a sede ao viajante, regando os campos vizinhos, trazendo a dádiva da vida. Por outro lado, as fontes eram lugares de encontros, de mouras encantadas, de génios escondidos, poiso de bruxas, lugar de sapos, tritões e saramelas”. São palavras de José Manuel Flores, arqueólogo municipal.
Ver mais...
No município da Póvoa de Varzim há notícia de várias fontes. Muitas delas desapareceram, outras ainda permanecem, vítimas da incúria de gentes sem formação e do desprezo de alguns autarcas. A Fonte da Bica ou do Coelheiro, situada no Bairro do Bonfim, na Póvoa, é das poucas que se encontram recuperadas. Ficou célebre pelas enguias “grossas como braços” apanhadas no regato que dela saía, pelas brigas travadas entre os rapazes da zona, pelas criadas dos banhistas que vinham buscar a água “que até os médicos aconselhavam”. A mais antiga referência à fonte data de 1695, através de uma acta da sessão de Câmara. Segundo Monsenhor Manuel Amorim, historiador e estudioso das questões locais, as fontes surgem associadas ao período da romanização. “Os romanos tinham a preocupação de captar, de reter as águas através de fontes, que eram o único meio de abastecimento de água, antes do aparecimento dos poços”, explicou.
Da Fonte do Crasto, em Navais, diz-se poder estar ligada ao Castro de Navais, de cuja existência os arqueólogos ainda não encontraram vestígios. A fonte servia para garantir o abastecimento de água ao Castro. Em 1984, quando a fonte estava transformada num depósito de lixo, jovens da Associação Cultural de Navais procederam à limpeza do lugar e escavaram a área circundante, pondo a descoberto uma “extensa prateleira por onde se fazia a servidão da fonte e regularizava o caudal remanescente”. A Fonte das Águas Férreas, em Laúndos, ficou famosa pelas suas águas medicinais que chegaram a ser vendidas por mulheres que as transportavam em cântaros. Infelizmente, a fonte, que data da fundação de Portugal, encontra-se oculta por um espesso matagal. Destino semelhante teve a Fonte da Giesteira de Baixo, situada em Beiriz, cuja sorte foi denunciada por Monsenhor Amorim, em 1999, no “Notícias da Póvoa de Varzim”: ”A velha fonte do meu sítio está lá mas ninguém a vê. Um «pato bravo» (construtor civil) meteu-lhe, por cima, um estradão, simulacro de viaduto, ocultando-a aos olhares públicos (…)”. Segundo o historiador, era costume as mães levarem os seus meninos à fonte para lhes lavar os olhos nas manhãs de Inverno.
A Fonte ou Fontanário de S. Pedro, em Rates, já é referenciada nas “Memórias Paroquiais” do século XVIII. Acreditava-se que quem bebesse da sua água se via livre de todas as maleitas. A Fonte do Casal, em Balasar, também surge associada à lenda de S. Pedro de Rates. A Fonte das Freiras, em Terroso, ficou conhecida por fornecer o Convento de Santa Clara de Vila do Conde. Também em Terroso, junto à igreja, encontramos a Fonte Santa. Referência ainda para as maltratadas e abandonadas fontes no lugar da Pedreira em Beiriz, e “Celta”, localizada em Argivai, sob um viaduto do IC1. É dramático ver o património cultural local espezinhado desta maneira. Até quando?
António Pedro Ribeiro (Texto); Bruno Neves Filho (Fotos) – Fontes encantadas estão abandonadas, In: “A Voz da Póvoa”, 24.Abril.2003, p.8-9.
de 14 a 31 de outubro 2019
na Biblioteca Municipal
Ver também:
•
Galeria de imagens
|