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Naufrágio do "Veronese"
1 centenário




 

O naufrágio do “Veronese”

Quase passou despercebido na Póvoa o 95.º aniversário do naufrágio do navio “Veronese”, um paquete inglês de passageiros da linha de Liverpool, que encalhou nas pedras da Lanha, frente à Capela da Boa Nova, em Leça da Palmeira, causando 19 mortos. Um trágico acidente que pôs a nu as fragilidades dos meios de salvação da altura e que atirou para as páginas da imprensa nacional e estrangeira a bravura dos tripulantes do salva-vidas poveiro “Cego do Maio”, capitaneado pelo heroico Manuel António Ferreira, o célebre “Patrão Lagoa”.
Pelas seis horas da manhã do dia 16 de Janeiro de 1913, sob mau tempo e mar encrespado, navegava a norte de Leixões o “Veronese”, que navegava de Vigo para Buenos Aires (Argentina). A bordo seguiam 221 passageiros e tripulantes. Para além de vento forte e grandes vagas, um denso nevoeiro cobria a costa. Forte motivo para que o navio encalhasse nos rochedos. O mar estava tão agitado que quase se tornava impossível o salvamento do pessoal embarcado.
Conhecedor da eminente tragédia, o Guarda-Marinha António Costa, Delegado Marítimo da Póvoa de Varzim, fez seguir para Leixões o salva-vidas poveiro “Cego do Maio”, “na esperança de que os heroicos e destemidos pescadores poveiros pudessem prestar o seu valiosíssimo auxílio”. Segundo ele, “apesar de não lhe terem sido requisitados socorros, a Comissão Local do Instituto de Socorros a Náufragos, julgou seu dever providenciar para que o salva-vidas “Cego do Maio” fosse transportado (a pulso, por mulheres e homens), para a estação de caminhos de ferro donde seguiu em comboio especial com destino ao local do naufrágio”. As mulheres, em prantos, rua fora, incitavam os pescadores a salvar “aquelas criaturinhas de Deus”, desprezando o perigo que os esperava. Acompanhava o salva-vidas a seguinte tripulação: Manuel António Ferreira, o Patrão Lagoa, e seus filhos Manuel António, David António e Carlos António; José Gonçalves Gavina, Josefino Milhazes, David Francisco Marques da Rosa, João Gonçalves Gavina, Joaquim Pereira Rajão, José Francisco Marques, José Lopes Macieira, Francisco José Ferreira Maravalhas, José da Silva Braga (tio Piroqueiro), Joaquim Capelão e Manuel Jacob.

O SALVAMENTO

Quando chegaram ao local do naufrágio, os tripulantes do “Cego do Maio” foram recebidos com lágrimas de emoção e de alegria. O povo, que via nos poveiros uma raça de bravos e ousados pescadores, implorava-lhes o salvamento dos náufragos. Com a vinda dos poveiros, chegava a esperança. Olhando para o navio encalhado, desabafava o Patrão Lagoa: “é uma dor de alma ver aquela gentinha, toda molhada, aflitíssima com a morte tão perto e eu sem lhes poder valer!”. O mar “estava um cão” e o capitão do porto não autorizava a saída do “Cego do Maio”. Para o patrão poveiro, a noite foi de pesadelo. Era preciso salvar aquela gente, custasse o que custasse, mesmo desobedecendo à autoridade marítima. No dia seguinte, pela manhã cedo, Lagoa e o filho mais velho, foram falar com o capitão do porto de Leixões, manifestando o desejo de sair da barra para salvar os náufragos. Um rotundo “não!” foi a resposta. “Só de loucos!” – Dizia ele. Era uma temeridade o salva-vidas abeirar-se do “Veronese”. Manteve-se todo o dia (sexta-feira) a recusa do Capitão do porto de Leixões. Patrão Lagoa não desanima. Durante a noite, em segredo, ordenou à tripulação que o ajudasse a montar um cabo de vaivém. Era o trunfo na manga, como derradeira tentativa. Mal rompe a manhã, Lagoa prepara-se para o salvamento. Dirige-se ao rebocador “Tritão” e pede que o leve até ao “Veronese”. “Nem pensar!”, responde o comandante. Com a permissão do capitão do porto, dirige-se então à rebocadora “Bérrio”, um navio da marinha de guerra portuguesa, e pede reboque até ao paquete encalhado. “Este navio não dispõe de cabos…” responde, como desculpa, o comandante. Sem perda de tempo, Lagoa arranja o cabo para reboque e propõe ao comandante uma arrojada “tentativa para salvar os náufragos”. O Comandante do “Bérrio”, depois de expor ao Patrão Lagoa o grande perigo que corria, acede ao reboque, na condição deste mandar para bordo um prático tripulante do salva-vidas para orientar a difícil aproximação ao navio inglês. Num salto, sem hesitar, sobe para o “Bérrio” o experiente e arrojado José da Silva Braga (o Tio Piroqueiro): “Em Leixões mando eu, mas aqui tomo-o como prático do salva-vidas ‘Cego do Maio’ e assumirá toda a responsabilidade da operação” – lembrou o comandante. Finalmente havia carta branca para avançar. Patrão Lagoa manda seguir o navio-canhoeira até altura de sete braças, a meia dúzia de metros do “Veronese”.
Aí chegado, ouve-se o grito do Tio Piroqueiro: “daqui nem mais um palhito!...” ao mesmo tempo que pega num machado e corta o cabo que prende o salva-vidas ao navio. Começa aí o salvamento. Dali para a frente, já livres, sulcando as perigosas ondas, depois de várias manobras, os tripulantes do “Cego do Maio” pararam a três metros do “Veronese”. Seguindo a difícil e temerária manobra, os náufragos, loucos de alegria, davam hurras!, batiam palmas, acenavam com os lenços e pediam que os salvassem A bordo do “Cego do Maio” não havia cansaço nem medo. Patrão Lagoa lança uma rosca pequena com uma espia que caiu dentro do navio. Era o primeiro passo da operação de salvamento, seguida em terra, com ansiedade, emoção e lágrimas. A certa altura o perigo rondou o pequeno salva-vidas da Póvoa. Foi preciso um esforço hercúleo da tripulação, porque as vagas, que cobriam o “Cego do Maio”, atiravam-no contra o costado do navio encalhado. Por acenos e sinais, Patrão Lagoa avisava os passageiros ingleses para se amarrarem ao cabo da bóia-grossa, para ser estabelecido um vaivém. Os náufragos enfiavam a rosca até ao pescoço e, obedecendo às ordens do Lagoa deslizavam confiantes até ao “Cego do Maio”. Mal entrou no salva-vidas o primeiro náufrago, reboaram palmas pelos tripulantes e pelo pessoal de terra que seguia com angústia o arriscado salvamento. Como o “Cego do Maio” era pequeno, houve que fazer várias viagens até ao “Bérrio”, qual delas a mais perigosa. Da última, o salva-vidas esteve para se afundar por excesso de peso. Da primeira vez foram levados para o navio 10 náufragos, da segunda 12, da terceira 14, da quarta 16 e da quinta 13. Foram salvos pelo salva-vidas poveiro 65 homens.
Do Posto de Leça partira, entretanto, o salva-vidas “Douro”, rebocado pelo “Tritão”. Nessa altura o “Cego do Maio” tinha já feito três viagens e salvo 36 náufragos. Graças Ao trabalho de outros salva-vidas (destaque para o salva-vidas de Leixões comandado pelo patrão José Rabumba) foram salvos 202 dos 221 passageiros embarcados. Lastimavelmente 19 perderam a vida. Quando chegaram os primeiros passageiros a bordo toda a gente chorou de alegria e emoção. Enquanto os tripulantes davam as suas roupas aos náufragos encharcados, “o comandante matava uma grande quantidade de galinhas para fazer canja quentinha para aquecer os corpos enregelados”.

MANIFESTAÇÕES

Quando chegaram à praia de Leça, os tripulantes do “Cego do Maio” foram recebidos com palmas e abraços. Os valentes e bravos poveiros, que tão altruisticamente arriscaram a sua vida para salvar outras vidas, mereceram os maiores elogios na imprensa nacional e estrangeira. Do mais lido diário ao mais modesto periódico de província, a coragem do Patrão Lagoa e dos tripulantes “eram notícia de primeira página”. Falava-se de heroicidade sem limites. Os feitos do Patrão Lagoa chegaram ao Parlamento. Na Câmara dos Deputados, antes da ordem do dia, o presidente “refere o naufrágio do ‘Veronese’ e põe em relevo o heroísmo e ousadia temerária dos pescadores da Póvoa, os quais, no salvamento dos náufragos, se portaram com excepcional temeridade. Propõe, por isso, que se telegrafe ao senhor administrador do Concelho da Póvoa, pedindo-lhe que em nome da Câmara saúde os poveiros pela sua extraordinária heroicidade.”
Também o Governo Civil do Porto felicitou “os bravos marinheiros da Póvoa pelo alevantado altruísmo nunca desmentido, usado no salvamento de tantas vidas”.
Quando foi conhecida a chegada à Póvoa dos bravos pescadores, a população ocorreu eufórica à estação dos caminhos-de-ferro. Gente de todas as camadas sociais. A Direcção do Clube Naval, com a bandeira do clube, e a Banda de Música dos Bombeiros, faziam guarda de honra na gare. Quando o comboio chegou a Banda atacou o hino do Naval e o povo recebeu em delírio os seus heróis. Ouvem-se muitos vivas! a “Patrão Lagoa” e são lançadas dúzias de foguetes. Os pescadores são abraçados e levados em ombros pela multidão. Seguiu-se um cortejo até à sede do Clube Naval onde, da varanda, o dr. Leonardo Coimbra, professor do Liceu da Póvoa, em discurso inflamado, exalta o feito daqueles bravos poveiros. O cortejo segue para a Assembleia Povoense onde discursaram o dr. Caetano de Oliveira (Presidente da Comissão Local de Socorros a Náufragos), Isac Pereira Lobo e Cândido Landolt. Mais tarde, no Clube Naval, a direcção ofereceu “vinho fino, doces e café” aos tripulantes do “Cego do Maio”. Durante a recepção, quando perguntaram ao Tio Piroqueiro qual a recompensa por tão heroico feito, ele respondeu com um encolher de ombros: “Olhe… já me dou por bem pago com uma arrozada de frango!”.
A Sociedade da Cruz Vermelha do Porto e a Colónia inglesa deslocaram-se à nossa terra para, pessoalmente, agradecer a coragem e colocar uma coroa de bronze no monumento do Cego do Maio. O Centro Comercial do Porto resolveu concorrer com um donativo para auxiliar a compra de uma carreta de transporte dos sinistrados “e oferecer uma quantia à intrépida tripulação do Cego do Maio”. Mr. Turner, comandante do paquete naufragado, fez questão de vir à Póvoa abraçar o Patrão Lagoa, e a ousada tripulação do “Cego do Maioo”. A Companhia Lamport & Holt Line, proprietária do navio, algumas instituições e particulares, entregaram donativos aos tripulantes do “Cego do Maio”. De todo o país chegaram à Câmara felicitações.

José de Azevedo – O Café da Guia – O naufrágio do “Veronese”. O Comércio da Póvoa de Varzim. Ano 105º, nº. 6/109, (7 Fevereiro 2008), p. 2


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