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exposições documentais > António Baptista de Lima
António Baptista de Lima : Tipografia Camões [1942 -]

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"Nasci" entre máquinas e papeis
Os anos 40 iniciam uma nova época da Tipografia Camões, quando o meu pai a compra a meu avô, por intermédio do merceeiro, atendendo que não podia haver venda de pai para filho.

No início dos anos 50 comprámos uma máquina Minerva a motor com marginação manual que precisava de ser usada. Então o meu pai foi bater à porta da empresa Póvoa Cine que nos deu um programa para fazer, passando nós a entrar em concorrência com a outra gráfica que trabalhava para a mesma empresa. O proprietário da outra gráfica não gostou muito de ver o nosso programa na rua e fechou as portas a meu pai dizendo que nunca mais lá cortaria papel, estando a Tipografia dependente desta actividade vital. Foi quando meu pai contou tudo ao Sr. Artur Evaristo Monteiro, mais conhecido por “Tuta”, que ouviu bem o meu pai e da sua boca saiu esta frase: “João, vamos ao Porto comprar uma guilhotina que essa gráfica nunca mais vê trabalho da nossa empresa”. Começou aqui a nossa rampa de lançamento.

Na década de 50, tínhamos de entregar todos os meses um volume da colecção policial Corvo, que era composto manualmente. Entrámos também no mundo da impressão de envoltórios de latas de sardinha de conserva, que eram aos milhares, tal como as sardinhas. Abastecíamos as fábricas de Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Matosinhos e Olhão. Chegavam a ser 500.000 exemplares da cada marca. Então tivemos de comprar máquinas totalmente automáticas: uma Minerva alemã e uma cilíndrica italiana Nebiolo; esta última foi logo a seguir trocada por uma Frankental cilíndrica alemã de formato maior, tecnologicamente mais avançada e mais rápida.

O Sr. Artur Evaristo Monteiro revelou-se um amante das artes gráficas e passava o tempo todo na tipografia. Grande amigo do meu pai. Todas as noites, no fim do trabalho, juntavam-se e jogavam juntos a lotaria da Santa Casa. Uma noite, a chegada do cauteleiro trouxe a notícia do bilhete premiado que lhes pertencia. Isto em 1958. Foi quando o amigo Tuta proferiu a frase: “João, amanhã vamos ao Porto comprar máquinas que eu para já prescindo do meu dinheiro”. Isto nunca mais se esquece. Eu fui com eles à Casa Campião levantar o dinheiro e lá fomos comprar as máquinas.

No início dos anos 60 comprámos uma máquina Heidelberg cilíndrica alemã, de maior formato, que imprimia 16 páginas de livro de cada vez e cartazes de grande dimensão, uma Frontex, máquina de média dimensão para imprimir os programas de cinema e trabalhos comerciais que utilizavam papel fino, uma máquina de dobrar obra de livro e uma máquina de coser. O acabamento do livro continuava a ser entregue a um encadernador do Porto.

A Tipografia ia crescendo, até que em 1963 sou destacado para cumprir o serviço militar, 2 anos cá e mais 2 na guerra em Angola, regressando em 1967. Embarquei em Janeiro de 1965 e em Fevereiro recebo um telegrama com a notícia do falecimento do meu pai. Foi quando o meu irmão José regressou de Moçambique para preencher o lugar deixado pelo meu pai. Nesse mesmo ano, comprámos uma máquina de compor automática, pois até à data do falecimento do meu pai, a composição era totalmente manual. Em 1967 regresso de Angola e esses são os anos de maior crescimento da tipografia. Comprámos uma máquina de impressão de grande formato, outra máquina de compor e uma guilhotina, todas automáticas. Se até aqui já trabalhávamos para a Editorial Verbo e para a Brasília Editora, com esta capacidade de resposta começávamos a ser solicitados por mais editoras. Na rua José Malgueira, as instalações com 300 m2 já começavam a ser pequenas e não havia espaço para armazenar papel. Tínhamos papel armazenado no Teatro Garrett, no Sr. Augusto Terroso, que era marceneiro lá na rua, mas a grande quantidade de papel estava armazenada em Argivai, no armazém da carpintaria do Sr. João Ferreira.

Foi quando eu decidi convocar os meus irmãos José e Albino, expondo-lhes a impossibilidade de continuarmos naquela situação. Necessitávamos de comprar um terreno que nos desse mais amplitude, melhor distribuição de máquinas e mais produção. Comprámos um terreno com 4.000 m2 na Cova do Coelho, onde se situam actualmente as nossas instalações. Foi sempre a crescer em actualização de máquinas e em trabalho.

Entretanto, com o 25 de Abril, regressa o meu irmão João de Moçambique e dedica-se à impressão de etiquetas e de autocolantes para confecções. Em 1981 o meu irmão Albino abandonou a Tipografia Camões. Ficámos eu e o José a gerir a gráfica, com a minha irmã Cacilda nos acabamentos. A obra livro era tanta que fomos obrigados a comprar uma máquina de encadernar.

Em 1983 faleceu o meu irmão José num acidente de viação em Leiria quando regressava de uma entrega de livros. Nessa altura, a minha cunhada Salette, viúva do José, veio para a administração, com a ajuda da minha irmã Cacilda. A tipografia continuou a laborar em pleno, sempre a crescer e a actualizar-se.

Em 1993, com o falecimento da viúva do meu irmão, a minha irmã Cacilda assume a administração. Coube-me a mim auxiliá-la nas suas funções.

Em Janeiro de 2006 faleceu a minha irmã Cacilda, tendo de passar a assumir o trabalho de ambos: o dela e o meu. Ou seja, um pouco de laboração, mas mais de administração. A minha irmã faz-me muita falta. Ainda hoje sinto muito ao ver a secretária dela sem a sua presença.

Hoje continuo a assegurar a administração e a laboração da Tipografia Camões, sem perder a noção de que é fundamental estar permanentemente atento à revolução tecnológica e às mudanças do mercado no campo das artes gráficas.


António Baptista de Lima


 
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