biografia Francisco Gomes de Amorim – Nasceu na freguesia de Aver-o-Mar (Avelomar, como escrevia), concelho da Póvoa de Varzim, a 13.08.1827 e faleceu em Lisboa a 04.11.1891.
Emigrou aos 10 anos para o Brasil, tendo sido caixeiro, em Belém do Pará.
Espírito irrequieto, a sua rebeldia ia ao ponto de insultar e mesmo agredir quem ousasse falar mal de si. Afastado do emprego, foi-lhe difícil encontrar trabalho nas redondezas, mercê da sua fama de rapaz turbulento. Ao fim de algum tempo, conseguiu empregar-se no extremo da cidade.
Aos 12 anos, começou a aprender a ler e foi tal a dedicação pelo estudo que, em poucos meses, já lia em voz alta, na ausência do patrão, a História de Carlos Magno, o primeiro livro que lhe caíra nas mãos; o segundo foi o «Lusíadas».
Mas quem diria que um moço tão travesso e sem instrução primária viria a atingir uma posição tão elevada nas letras e na sociedade portuguesa do seu tempo!?
Foi poeta aos 15 anos.
Em 1846, regressou a Portugal com nove anos de permanência no Brasil, deslocando-se à Póvoa várias vezes para manifestar o seu carinho pela terra que lhe serviu de berço.
A sua intimidade com Almeida Garrett resultou da leitura do seu poema «Camões», encontrado, por acaso, dentro de um cesto, com outros livros velhos, o que levou Gomes de Amorim a escrever-lhe uma carta a pedir-lhe protecção e a contar-lhe a emoção que sentira com a sua leitura. A resposta favorável de Garrett chegou-lhe às suas mãos, sendo motivo de indizível satisfação e ocasinando o seu imediato regresso a Portugal.
Em Portugal conviveu longamente com Garrett, tendo assistido aos seus últimos momentos de vida. Morrera nos seus braços. Gomes de Amorim considerava-o seu pai e mestre.
A Academia Real das Ciências de Lisboa galardoou-o com o prémio Dom Fernando, por ter publicado o melhor trabalho sobre a vida e a obra de Almeida Garrett.
A sua amizade pessoal com Oliveira Martins começou a partir do célebre «REQUERIMENTO DOS POVEIROS» que este insígne historiador enviara ao Rei Dom Luís I, em 1882, solicitando a construção de um Porto de Abrigo e que dizia assim: - «Não basta que ao peito do Maio se pendure a medalha de honra, nem se dêem vinte mil réis ao Sérgio: é necessário que na praia da Póvoa se construam molhes de abrigo – exactamente para não haver mais náufragos a salvar, nem mais heróis a enobrecer».
Gomes de Amorim na carta que escrevera a Oliveira Martins disse textualmente: «Pois assim como V. Ex.ª, oficiosamente, por bondade de alma, se tornou seu procurador benemérito, venho eu, em nome deles, como filho do mesmo concelho, depôr nas suas mãos benéficas este pobre atestado de gratidão das mães, das mulheres, das filhas e das irmãs agradecidas desses infelizes».
O Primeiro Centenário da Morte do polígrafo eminente, ocorrido a 04.11.1991, alongou-se, por proposta do ilustre Director do nosso Museu, Senhor Manuel Lopes, até Novembro de 1992.
No dia 3 de Novembro, a sua notável figura foi evocada solenemente pelo distinto historiador poveiro Rev.do Padre Manuel José Gomes da Costa Amorim (*). Digno de especial registo a presença de seu bisneto e homónimo que descerrou a placa comemorativa da efeméride na casa onde nasceu Francisco Gomes de Amorim, em Aver-o-Mar.
(*) Nota: a referida evocação foi efectivamente proferida pelo Professor Doutor Manuel Gomes da Torre.
Fonte: Alguns homens notáveis da Póvoa de Varzim: Gomes de Amorim. Associação Comercial da Póvoa de Varzim: 1º Centenário 1893-1993. Póvoa de Varzim: Associação Comercial, 1993. pp 50-51. Adaptado de MALPIQUE, Cruz - Francisco Gomes de Amorim: notas para um estudo. In: Póvoa de Varzim Boletim Cultural. Póvoa de Varzim: Câmara Municipal, Vol. IV, nº2 (1965), pp. 245 e ss; Vol. VI, nº 1 (1967), pp. 17 e ss; nº2, pp. 263 e ss. |