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história local > documentos com história> Projecto das Obras do Orfeão Povoense
Projecto das Obras do Orfeão Povoense : Pelo Arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira [1921]

[ + documentos com história ]

 

O ORFEÃO POVOENSE

A 25 de Abril de 1915 nascia o Orfeon Povoense – Sociedade Artística e Recreativa, mais tarde Orfeão Povoense e Orfeão Poveiro. Se hoje se liga o dia a uma efeméride revolucionária, a Póvoa daquele tempo associava a data a uma “revolução” no campo cultural e artístico.
Nascia o que até aí era impensável numa pequena vila de província. Criava-se um agrupamento que reunia a nata da sociedade, um grupo de jovens que se havia de notabilizar não só pela sua postura e arte, como por acções de solidariedade, como ainda, pelo honroso cargo (fictício) de embaixador da Póvoa. Para além disso, a novel associação conseguia juntar em alegre convívio os familiares dos seus componentes, ora em divertidas passeatas de bicicleta, ora em animados piqueniques, ora em sessões onde a arte musical e dramática eram figuras de proa.
O criador (aproveitando a ideia de Viriato Barbosa), dinamizador e primeiro maestro do Orfeon foi o Dr. Josué Francisco Trocado, uma personalidade de grande envergadura intelectual, jornalista e musicólogo, ao tempo professor de música no Colégio Povoense. Com o curso do Seminário de Braga (não chegou a tomar ordens sacras) e o de Filosofia pela Universidade Gregoriana de Roma, dedicou grande parte da sua vida à música, não só como docente na Póvoa, Santarém e Lisboa (Liceu Pedro Nunes), como regente e compositor. Era ainda uma referência nacional na música sacra, colaborando com os Beneditinos de Singeverga na restauração do canto gregoriano e polifónico.
O Orfeão Povoense, que chegou a ser considerado na época o “melhor de Portugal” (rivalizando com o Orfeão Universitário de Coimbra), só comparável ao que de melhor existia na Alemanha, um país com uma notável actividade orfeónica, não funcionou só como grupo coral. Nos seus riquíssimos 25 anos de vida (activa), e reunindo mais de 70 vozes, levou o nome da Póvoa pelo país fora, divulgando a sua actividade, orquestral, dramática, desportiva, cultural e social.
Durante a sua rica vida orfeónica, de 1915 a 1940, com largos hiatos pelo meio, o Orfeão fez 65 actuações, qual delas a mais aplaudida. De sucesso em sucesso, pela excelência dos seus componentes, qualidade do seu programa e apurada polifonia, o Orfeão da Póvoa tornou-se uma referência nacional. As críticas colocavam-no nos píncaros da lua.

A ESCOLA MATERNAL
Quem passa hoje defronte à Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, vê uma magnífica frontaria de pedra trabalhada, enquadrada no edifício envidraçado de linhas modernas. Parece desajustado, mas não é. Fez bem o arq. Silva Garcia, o autor do projecto, em integrá-lo naquele premiado edifício municipal. Não só porque esteticamente combina na perfeição, como serve de memória aos poveiros divorciados da história da cidade. Aquela artística frontaria de pedra, deslocada do cimo da Avenida Mousinho de Albuquerque, era o início da obra da sede social do Orfeão Povoense, que tinha acoplada uma Escola Maternal, que tanta falta fazia na Póvoa do início do século passado. Era esse o sonho dessa mocidade generosa que dava vida ao Orfeon. Um grupo de jovens de pensamentos nobres, que procurava dotar a sua terra de uma instituição artística e ao mesmo tempo social, dirigida pelo grande maestro Dr. Josué Trocado, que tudo fez para oferecer à sua terra a obra com que sonhou e por quem lutou toda a vida. Para a sua construção, que se revelava onerosa, o Orfeon apoiou-se no produto das suas récitas, donativos, convívios e comparticipações de associados. Recorde-se que de 1915 a 1930 (o seu período áureo), o Orfeão Povoense correu Portugal de lés-a-lés em jornadas gloriosas de arte. Para além do Minho, fez espectáculos no Douro, Beira Alta, Beira Litoral, estremadura e Alto Alentejo. Em Lisboa e no Porto (Palácio de Cristal e Teatro São João) os êxitos repetiram-se. Onde chegava, não só esgotava as casas de espectáculos, como era recebido com toda a pompa pelas autoridades locais.
O Orfeão Poveiro era apresentado como exemplo de actividade cultural, um grupo de prestígio dirigido por um regente de grande competência e craveira intelectual. Em Guimarães, o Dr. Josué Trocado foi homenageado pelo Orfeão de Guimarães (Julho de 1937), com o galardão de Sócio Honorário, com diploma assinado por todos os dirigentes. Também na Póvoa os saraus eram frequentes. Há registos de 23 casas esgotadas no Teatro Garrett, Praça do Almada (ao ar livre), Café Chinês (3), Salão-Teatro do Monumental Casino e Salão Nobre (3), e na sua sede, à Praça do Almada, por cima da Livraria Povoense (4). Graças à formação e competência do seu regente, era, ainda, convidado para abrilhantar celebrações religiosas. Recorde-se a Missa da Palestrina, na Sé de Évora e na Igreja do Convento, em Santo Tirso. E registe-se que nem sempre o Dr. Josué esteve como regente, já que a sua vida profissional de docente obrigava-o a prolongadas ausências. De 1915 a 1918, foram os “anos de ouro” da sua regência; em 1918 e 1919, houve afastamento; de 1927 a 1928, Josué Trocado passa a residir em Lisboa, onde exerce o cargo de professor de música; em 1929 e 1930, a regência passa para o professor Alberto António Gomes; de 1931 a 1934, não há regente; de 1935 a 1940, “período de renascimento do orfeão”, o Dr. Josué Trocado assume a regência (mesmo a residir em Lisboa) e indica para sub-regente o Professor Alberto António Gomes; a partir de 1940 (período da “decadência e caminhada final”) o Dr. Josué manteve-se como “director” até à sua morte, em 8 de Dezembro de 1962. Com 80 anos e viúvo, levou para a sepultura o maior desgosto: não concretizar as obras do edifício-sede no topo nascente da Avenida Mousinho.
Para além da angariação de fundos através das récitas, o Dr. Josué Trocado, acompanhado de sua esposa D. Maria Alves Campos Trocado, deslocou-se particularmente ao Brasil e Argentina visitando as colectividades poveiras na recolha de fundos para a “sua” Escola Maternal ou Infantil. Recebido no Rio de Janeiro com tratamento de excelência, parece que todo o emigrante poveiro compareceu na recepção que lhe foi dedicada. Com um discurso apaixonado na sede do Orfeão Português do Rio, trouxe dos poveiros a importante soma de 60 contos, que era muito dinheiro para a época. O Dr. Josué visitou ainda a Baía e Recife, onde os patrícios lá residentes o cumularam de gentilezas e donativos.

UM GRUPO ESPECIAL
O Orfeão povoense era uma agremiação invulgar para a época. A sua vivência era uma constante actividade orfeónica, orquestral, dramática, desportiva, cultural, artística e social. A mocidade da época estava radiante com as suas actuações e pelo êxito obtido. Muito mais pelo prestígio que a sua terra alcançava extramuros. Falava-se com carinho dos jovens poveiros com “pensamentos alevantados e generosos”. Contabilizados os poucos anos de vida orfeónica (no seu percurso houve vários hiatos), o grupo tinha no seu currículo 65 actuações corais, podendo acrescentar-se um sem-número de representações pelo seu Grupo Dramático e Orquestral, actividades culturais e conferências nas mais diversas localidades. Ao falar-se da presença do Orfeão Povoense era o mesmo que falar-se de um maremoto artístico a inundar as localidades por onde passava. Para além dessa vertente cultural, o Orfeão tinha um Grupo Desportivo que arregimentava a população local para longos passeios de bicicleta, o veículo da moda na altura. Uma espécie de ciclo-turismo que a Câmara organiza hoje no dia 25 de Abril, só que, nesse tempo, o pelotão, que era recebido nas localidades por onde passava com foguetório e discursos, terminava sempre num lauto piquenique. Juntava-se o prazer da bicicleta ao prazer da mesa. Ases do pedal e do garfo e faca.
Ficaram célebres os passeios a Viana do Castelo, a “I Grande Parada Ciclista a Fão”, em 1935 (que juntou 700 ciclistas com “roupa de domingo”!!!), e a “II Grande Parada Ciclista a Esposende”, com 300 ciclistas. A foto que ilustra esta crónica refere-se à “I Grande Parada Ciclista a Fão” realizada pelo Orfeão Povoense com a colaboração do Clube Fãozense. Os ciclo-turistas poveiros concentraram-se na Praça do Almada, e dali partiram estrada fora até Fão. Foram horas a pedalar em conjunto até ao centro daquela localidade ribeirinha, onde o povo, na rua, esperava a comitiva poveira com bandeiras e manifestações de grande entusiasmo. No Largo onde hoje se situa o “Restaurante Rita Fangueira”, houve fogo de artifício e discursos inflamados. O Dr. Josué, fazendo jus à sua eloquência, fez vibrar de emoção visitantes e visitados. No final da recepção, e cumprindo a praxe, os ciclistas poveiros dividiram-se pelo Pinhal de Ofir. Um dos mais entusiastas era o sr. Avelino Faria, farmacêutico (avô do Dr. Rui Faria), casado com D. Adelaide, uma senhora de Fão. Ora, para o grupo do marido, onde se encontrava Josué Trocado, o Lemos farmacêutico, José Costa Novo, Antero Ferreira e outros, coube a D. Adelaide fazer as honras da casa. Isto é: preparar um farnel do tipo “manjar dos Deuses”, contando com a participação de seus familiares.
Ainda há orfeonistas que participaram nesse piquenique. Um deles foi Fernando Linhares de Castro que cedeu esta fotografia “histórica”, não só para recordar uma das mais animadas actividades do Orfeão como para prestar homenagem ao farmacêutico Avelino Faria, um poveiro com disponibilidade total para as coisas da Póvoa e de uma simpatia cativante.

José de Azevedo – O Café da Guia – O Orfeão Povoense.
O Comércio da Póvoa de Varzim, N.º 17, (29 de Abril de 2010), p. 2.
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DE COMO NASCEU O ORFEÃO POVOENSE

«Era no Garrett!
Em forma de anfiteatro, no amplo palco, bancadas dispostas (…) ocupadas por toda uma rapaziada, a fina flor da nossa Póvoa que em orfeão entoava a «ouverture» do «Navio Fantasma», de Wagner, coral que sobre a minha alma caía como chuva ténue de fios de oiro (…) na minha alma, a única espectadora que só no seu sentir enchia a plateia!
Ao centro do palco, na sua impressionante envergadura (sic) destacava-se em correcta regência (…) um cavalheiro que não há muito tempo, quando da festa da Liga Escolar, se evidenciou na originalidade da (…) música com que (…) ornou as mimosas peças teatrais representadas.
Em transformações subtis, à modulação daquela «ouverture» seguia-se agora um trecho alegre de Rossini, de constantes inovações tão naturais, tão abundantes de som (…); depois (um trecho) de Weber, em expressões dramáticas e de fantasia (…) e logo a seguir (ouvia-se) Schumann num desespero de tristezas místicas (…); e ainda Chopin na sua profunda melancolia… Mas de instantes a minha alma sobressaltou-se, para sossegar após, inebriada! (…) Começava uma melodia terna e sonhadora como murmúrio das águas na levada, deslizando por entre salgueirais, entoando endechas e cantando madrigais, melodia saudosa como que bebida da lua, ali na praia (…), canção portuguesa que melhor falava à minha alma…
… Acordei e depois (tão doce) sonho fantasiei-o em realidade. Sim. Tornei esse meu sonho noutro sonho, escrevi, procurando incuti-lo no espírito de quem se julgue de ânimo forte para nele insuflar vida (…)
… Que não seja estiolado pela aragem fria da indiferença».
Estiolado pela aragem fria da indiferença não foi esse sonho evocado há 55 anos na revista «A Póvoa de Varzim», n.º 8 do 4.º ano, 1.ª quinzena de Fevereiro de 1915.
De boamente absolve-se do risonho pecado da prosa arrebicada à moda da época – aqui agora condensada – a quem era esperançoso moço de vinte e poucos anos, dominado pela audaciosa maquinação da letra de forma!
Não! Não caiu em saco roto a prosa presumida do novato no restrito meio local das letras!
Logo à saída do referido número daquela revista, ainda o papel estava humedecido da tinta quando foi levado pelo querido Joaquim Martins da Costa Júnior a casa do cavalheiro de impressionante envergadura que outro não podia ser, como ficará compreendido, senão o apreciado musicólogo poveiro dr. Josué Trocado.
A semente fora em bendita hora lançada à terra. O semeador fui eu.
Certo é que sob a rubrica «Actualidades», a mesma revista, no imediato número da 2.ª quinzena de Fevereiro, na sua primeira página exprimia-se deste modo:
«Parece que é ponto assente a organização dum Orfeão Povoense, porquanto, na noite de 4.ª feira, 10 do corrente (Fevereiro de 1915), assistimos à reunião preparatória que pelas 9 horas (…) em ponto se efectuou na sala nobre da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários, com a concordância (sic) da Associação dos Empregados do Comércio e dos alunos do Liceu.
… Os ensaios rudimentares já principiaram, e sabemos que o Orfeão concorre em fins de Março, para um espectáculo organizado pelo Exm.º Sr. Major Lauro Moreira, digníssimo comandante do regimento (sic) aqui aquartelado e cujo produto reverte em benefício do Posto de Socorros a Náufragos, que será enriquecido (sic) com um carro porta-cabos do modelo aperfeiçoado».
Neste bosquejo histórico do Orfeão, deixando à margem os elogios dispensáveis e caladas as exaltações bairristas, é porém neste ponto exacto colocar em evidência o entusiasmo com que passado um escasso mês após a fundação do Orfeão, este ver-se preparado para apresentar-se à prova pública num digno espectáculo. Preparara-se de facto para apresentar—se a julgamento de justo juízo de tantos que ansiosamente desejavam ouvi-lo.
Há muito quem ponha, mas basta que disponha Aquele que tudo pode para que tudo corra certo e assim foi que no dia 25 de Abril do mesmo ano de 1915, dia assinalado, o Orfeão, organizado e regido pelo dr. Josué Trocado fez a sua solene apresentação no palco do Teatro Garrett de tão nobres tradições. É ao n.º 14, 3.º ano, da 1.ª quinzena de Maio de 1915, da para mim saudosa revista «A Póvoa de Varzim» que vou buscar a efeméride. Não resisto à tentação de reproduzir abaixo o trecho que segue, parte final da notícia dada: «Era só o dr. Josué Trocado, aqui na Póvoa, quem podia realizar tal tentativa.
E conseguiu-o!
Celebridade musical (…) em nada menos de dois meses compôs um programa e ensaiou um grupo numeroso de rapazes (…), com uma proficiência aturada e paciente, pondo depois em público, com o pomposo (sic) nome de «Orfeão Povoense», uma afinação de vozes (…) a executar inspirações de Weber, de Weyts, etc., arrancando do auditório prolongadíssimas salvas de palmas».
Dum pequeno artigo de crítica que eu então escrevi para o mesmo número 14 da revista, destaco esta passagem:
«O Orfeão agradou sobremaneira (…) A «Cantata», original do sr. dr. Josué Trocado (…) é um hino de vivo amor pela arte musical e pela Póvoa (hino) em que o nosso coração vibra de entusiasmo e de ternura. N’«A Bailadeira Oriental», de Weyts, sente-se uma impressão doce no diálogo entre o tenor e o soprano, entrecortado pelo coro num conjunto harmonioso e bem casado. Mas n’«A Vindima», também original do dr. Josué Trocado, então a nossa razão ilude-se e no espírito forma-se um quadro todo real e todo nosso. O sol dardeja raios fecundantes que amadurecem os grandes cachos de uvas que moças louçãs carregam em cestos para o lagar, cantando risonhas quadras, às que toda a natureza responde em coro.
O «Coro dos Caçadores», de Freiseütz-Weber, é uma visão nítida da caça, vibrando as trompas, latindo os cães, ressoando nos bosques os estímulos e brados dos caçadores.
Extra programa foram cantados «Os Sinos de Mafra» que pela sua originalidade (o coral) captou milhares de palmas de toda a plateia».
Crítica feita, obedecendo ao estilo da época, transportando-a para aqui, pretendo dar uma ideia, esbatida embora, de como foi o espectáculo no «Garrett» a favor da Comissão Local de Socorros a Náufragos, e para apresentação do nóvel Orfeão naquela memorável noite de 25 de Abril de 1915.
Toda a medalha, fulgurante que a face seja, tem reverso quantas vezes obscurecido!
Transcrevo na íntegra para que não perca o sabor amargo de boca, esta pequena notícia inserta na 2.ª página do n.º 22, 4.º ano, relativo à 1.ª quinzena de Setembro, da revista que me tem servido de proveito nesta resenha histórica:
«Realizou-se no dia 26 de Agosto a anunciada récita do “Orfeão Povoense”. Era nosso intuito fazermos em estilo grandíloquo (!), como de justiça uma larga referência a essa récita, tal qual como quando da inauguração do Orfeão; mas o promotor ou os promotores desse recital não se dignaram distinguir-nos com o convite, como o fizeram a toda a imprensa, cremos, e a alguns correspondentes de jornais de fora, pelo que nada podemos dizer».
Também é história esse episódio meditado!
Por amor da terra, esquecido o agravo, já a mesma revista no seu número 3, 5.º ano, da 1.ª quinzena de Dezembro de 1915, descrevendo a visita que o Orfeão fizera à cidade de Braga, num alongado artigo dava largas ao entusiasmo:
«Já lá vão passadas duas semanas que o distinto “Orfeão Povoense” fez a sua visita à nobre e fidalga cidade Braga e ainda não se apagaram os ecos dos aplausos (…) a essa plêiade de rapazes que se agruparam num delicioso (!) círculo de arte».
E a prosa louvaminha prolonga-se ajustada às circunstâncias e termina deste modo:
«A revista da «Póvoa de Varzim» abraça do coração o digníssimo regente, sr. dr. Josué Trocado e toro o corpo orfeonista, em testemunho e homenagem da sua simpatia e do seu enorme júbilo pela apoteose de Braga!» Foi pois em apoteose que o Orfeão, recebido e aplaudido naquela «nobre e fidalga cidade de Braga», assim consagrado na primeira visita de honra, preparou o caminho a outras visitas e a tantos sucessos por essas terras, com relevo para Lisboa, de norte a sul de Portugal!
Sentida era e imperdoavelmente dizia-se que ao Orfeão faltasse o seu hino! Ele que havia de viver e quem adivinhara, a morrer como o cisne a cantar, não cumpriria a sua missão se deixasse de proclamar alto e bom som a sua fé, nesse anseio de amor à Arte, numa elevação de espírito em cânticos de exaltação à terra em que florescera! Imperdoável o esquecimento, quiçá a esquiveza da inspiração, quando vai nisto na récita da festa anual fixada para a noite de 9 de Setembro de 1916, ao levantar do pano no «Garrett», o volume de som das vozes daquela massa escura de homens, todos caras conhecidas, todos vestidos de preto alvejando-lhes os peitilhos das camisas, ressoa pateticamente a abrir o espectáculo com o hino:

«Salvé Póvoa! terra ilustre
Nossa Pátria, nosso lar!...
Tu és nosso santo orgulho,
Quer além, quer àquem-mar.
Salvé, Póvoa! terra linda!
Tu és nossa, és imortal!
Teu amor revive em nós,
Num afecto perenal

Os teus filhos – raça forte,
Povo heróico, são, valente!
Sempre deram, do labor,
O exemplo à lusa gente;
Tendo d’alma portuguesa,
A coragem, a bravura,
Tendo o sestro heróico, ingente,
Da fé viva, d’aventura…
Coro
Soe um alto brado, quente,
De beleza astral, sem fim:
- Viva a nossa linda terra !
- Viva a Póvoa de Varzim!

Para que conste, a letra e a música são obra do director-regente. À festa deu concurso a senhora Dona Ofélia Freire que, acompanhada ao piano pelo dr. Josué Trocado, cantou as conhecidas românticas árias dominantes da ópera «Madame Buterfly».
De como nasceu o Orfeão Povoense, atingido que fora o primeiro ano de idade, a história aqui fica contada nestas despretensiosas linhas.
De como viveu e se finou o Orfeão Poveiro, um dia haverá mister de aparada pena que não a minha, escrever a história, essa maravilhosa história que em continuação vale a pena contar.

Viriato Barbosa - De como nasceu o Orfeão Povoense.
Póvoa de Varzim Boletim Cultural, Vol. X-N.º 1 (1971), pp. 29-35.
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OUTRA BIBLIOGRAFIA

  • Actualidades. Orfeon Povoense. Revista “A Póvoa de Varzim”, n.º 9 - 4.º ano, (2.ª quinzena Fevereiro de 1915), p. 1; (João A. Landolt).
  • AZEVEDO, José de – O Café da Guia – O Orfeão Povoense. O Comércio da Póvoa de Varzim, (29 de Abril de 2010).
  • BARBOSA, Jorge – Toponímia da Póvoa de Varzim. Josué Trocado (Rua do Dr.), Póvoa de Varzim Boletim Cultural, Vol. XII-N.º 1 (1973), pp. 66-71;
  • BARBOSA, Viriato – Orfeon Povoense. Um sonho. “A Póvoa de Varzim”, n.º 8 - 4.º ano, (1.ª quinzena Fevereiro 1915), p. 4; (João A. Landolt)
  • BARBOSA, Viriato - De como nasceu o Orfeão Povoense. Póvoa de Varzim Boletim Cultural, Vol. X-N.º 1 (1971), pp. 29-35;
  • CASIMIRO, José – Temas Poveiros: o Orfeão Poveiro. O Comércio da Póvoa de Varzim, (15 Julho 1961);
  • CUNHA, Domingos – A Escola Maternal. O Liberal, (4 de Dezembro de 1921);
  • Em missão de Propaganda. “A Póvoa de Varzim”, n.º 7 - 5.º ano, 13.Fevereiro.1916, p. 2. (João A. Landolt)
  • FERREIRA, Antero – Acerca do edifício do Orfeão. Uma carta. O Comércio da Póvoa de Varzim, (22 Julho 1961);
  • FERREIRA, Antero Brenha; COSTA, Martins da – Orfeon Povoense: subsídios para a sua história. A Voz da Póvoa, (3 e 24 Janeiro 1985), (7, 21e 28 Fevereiro 1985), (7, 14 e 21 Março 1985), (11, 28 e 25 Abril 1985), (2, 9, 16, 23 e 30 Maio 1985), (13 e 20 Junho 1985), (18 Julho 1985), (19 e 26 Setembro 1985), (27 Novembro 1985), (6, 13, 20 e 27 Março 1986), (3, 17 e 24 Abril 1986), (1 Maio 1986);
  • GARCIA, J. J. Silva – Orfeão Poveiro em questão. O Comércio da Póvoa de Varzim, (22 Setembro 1983);
  • GIL- Aquelas pedras falam… (Ao Orfeão Poveiro) , O Comércio da Póvoa de Varzim, (18 de Dezembro de 1936);
  • GOMES, Maria Alberta C. F. dos Prazeres – Recordando Alberto António Gomes. Grande Musicólogo. Uma vida ao serviço da música, Póvoa de Varzim: Edição do Autor, 1998;
  • GOMES, Pinharanda – Dr. Josué Trocado, jornalista e músico. Breve evocação. Póvoa de Varzim Boletim Cultural, Vol. XLII – (2008), pp. 370-383;
  • A Harmonia. Número Único comemorativo da passagem do 2.º aniversário do Orfeon Povoense, (10 Fevereiro 1917);
  • A Harmonia. Número Único comemorativo da passagem do 4.º aniversário do Orfeon Povoense, (10 Fevereiro 1919);
  • LOPES, Manuel; GARCIA, J.J. Silva - Pensar a Cidade – Do Orfeon à Biblioteca: um rosto para o sonho. Museu Municipal de Etnografia e História da Póvoa de Varzim, 1986;
  • LOUREIRO, Leopoldino – Pelo Orfeão Poveiro. Ala-arriba, rapazes! , O Comércio da Póvoa de Varzim, (9 de Abril de 1938);
  • LOUREIRO, Leopoldino – As Bodas de Prata do Orfeão Poveiro. O Comércio da Póvoa de Varzim, (24 de Novembro de 1939);
  • LOUREIRO, Leopoldino – E aquelas pedras ainda não souberam falar à alma da Póvoa… (Ao Orfeão Poveiro). O Comércio da Póvoa de Varzim (6 de Outubro de 1939);
  • Ode Orfeónica. Cantada pelo “Orfeon Povoense”, Revista “A Póvoa de Varzim”, n.º 11 e 12 - 6.º ano, (30 Março 1917), p. 83. (João A. Landolt)
  • Orfeon Povoense. É um facto a sua organização. Revista “A Póvoa de Varzim”, n.º 9 - 4.º ano, (2.ª quinzena Fevereiro de 1915), p. 9. (João A. Landolt)
  • Orfeon Povoense. Revista “A Póvoa de Varzim” (João A. Landolt),
    n.º 14 – 4.º ano, (1.ª quinzena Maio 1915);
    n.º 22 - 4.º ano, (1.ª quinzena Setembro 1915);
    n.º 3 – 5.º ano, (1.ª quinzena Dezembro 1915);
    n.º 4 – 6.º ano, (24 Dezembro 1916);
    N.º 7 – 6.º ANO, (18 Fevereiro 1917).
  • PEREIRA, Torres – Orfeão Poveiro, ala-arriba!. A Voz da Póvoa, (22 de Maio de 1986).


    Nota: Para mais informações consulte o Fundo Local da Biblioteca Municipal.



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    Rua Manuel Lopes
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    +351 252 616 000
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