[ toponímia ]
[ + personalidades ]
| | biografia Monumento ao Emigrante
Manuel Giesteira sonhou e a obra nasceu. O Monumento ao Emigrante foi inaugurado,
com esplendor, (…) na presença de convidados como o Secretário de Estado das Comunidades, José
Lello, o Arcebispo Primaz de Braga, D. Eurico Dias Nogueira, ou o representante da
Comunidade Brasileira, António Haddad. A pompa e circunstância para a estrutura que
representa a homenagem do emigrante poveiro Manuel Giesteira à sua família, imortalizada no
bronze e granito, e que simboliza todo o emigrante português. Por isso, durante o seu discurso
na cerimónia oficial de inauguração, Giesteira lançou o repto às autoridades de fazer do
Monumento de S. Félix o cenário de uma festa ao emigrante no primeiro sábado de Setembro
de cada ano.
A obra custou um total de cerca de 200 mil contos [1 milhão de euros] mas tudo vale a pena
quando se trata de concretizar um velho sonho de uma vida de sacrifício e trabalho, como é a
de todo o emigrante, lembrou o patrocinador do Monumento: “de longa data, sonhava que um
dia iria construir, nesta cidade da Póvoa de Varzim, uma obra que fosse uma homenagem a
todos aqueles que desta terra saíram pelos mais variados motivos, em busca de uma vida mais
digna para si e para o seus familiares; aqueles que tiveram necessidade de emigrar, com todas
as dificuldades e lutas que enfrentaram logo nos primeiros momentos da saída, mares bravios e
agitados, caminhos e atalhos desconhecidos e cheios de perigo, noites mal dormidas e, às
vezes, ao relento, tendo como cobertor as estelas do céu”.
O escultor do monumento ao emigrante
Aucione Agostinho trabalhou cerca de um ano nas esculturas do Monumento ao Emigrante.
Aucione Torres Agostinho, 65 anos, natural de Garça, estado de S. Paulo – Brasil, professor e
artista, este é o escultor que assina o Monumento ao Emigrante. Professor de artes, é doutor
em Artes pela Universidade de S. Paulo e afirma gostar de artes gráficas, “exploro todos os
sectores, sou escultor, pintor, desenhista, caricaturista e tenho uma escola de artes em Bauru”.
“Trabalho em artes plásticas desde os 12 anos”, explica o artista brasileiro que conta agora
com um monumento no norte de Portugal, “(…) O meu primeiro em monumento foi no Estado
de S. Paulo, na cidade de Catanbuda, tinha 23 anos, (…) foi um monumento ao Soldado
Constitucionalista da revolução de 1932, que eu vivi no meu país… Depois fiz outro monumento
para o Rio Grande do Sul, uma homenagem à força expedicionária brasileira, os “Pacinhas”
Brasileiros que combateram na Europa, na Itália , durante a 2ª Guerra Mundial”.
O Monumento ao Emigrante
“Quando o Dr. Giesteira me convidou para fazer uns estudos sobre o monumento, eu ouvi
durante uma hora e meia, depois senti a intenção daquele homem, daquele empresário que é
um homem dinâmico e lida com grandes negócios e responsabilidades a todo o instante, mas
de uma sensibilidade a toda a prova, (…) ele me procurou para fazer uma homenagem à sua
aldeia natal e aos seus pais. Então eu senti isso e transportei-me para a situação dele.”
Em trinta minutos Aucione traçou uns esboços do Monumento que Manuel Giesteira aceitou.
Mais três meses de esboços e acertos. Depois foi tudo mais fácil, diz Aucione Torres Agostinho
“votei mãos à obra e fiz planos, planeei as peças e comecei a moldar. Foram dez meses de
trabalho: fazia as cabeças e as partes mais difíceis no meu atelier e depois viajava com as peças
a 10 km/hora, rezando para não bater com o carro, uma viagem que normalmente se faz em 2
horas e poucos minutos, eu levava quatro horas e meia para chegar à fundição. Durante a
minha estadia na fundição, dormia ao lado da peça, três horas por noite, porque depois que eu
começo uma peça não posso perder o foi à meada”.
As esculturas do Monumento ao Emigrante
Desde o final do ano em Portugal, as esculturas que constituem o Monumento ao Emigrante,
vieram do Brasil por mar, “…o Dr. Giesteira alugou dois contentores, as peças foram
devidamente embaladas e vieram normalmente. Chegaram em Outubro passado e ficaram à
minha espera até hoje (27 de Agosto de 1998)” conta o escultor brasileiro, em Portugal para
assistir à montagem das estátuas no Monumento. (…)
As esculturas, dois adultos e três crianças, traduzem a partida de uma família, “… eu procurei
flagrar uma família cujo chefe sai num momento de ousadia total, ou tudo ou nada, então ele
joga tudo num só acto – levar os filhos e a esposa para um continente que ele desconhece,
rompendo os laços daqui: deixou amigos, a terrinha que ele bem conhecia e foi tentar a sorte
noutro continente. Eu tentei captar as fisionomias, ele lidera a fila, para a entrada de um navio,
com a fisionomia tensa, a mãe, logo atrás, com um filho ao colo, dá a mão ao miúdo que vacila
e logo a seguir o mais velho que seria o Dr. Giesteira e atrás, cerrando a fila, vem o do meio,
arcado com um saquinho às costas, sendo a curva do corpo que fecha o ângulo do volume das
massas das figuras que estão subindo (…)”.
Quanto à indumentária com que são reproduzidas as esculturas que a partir de agora podem
ser vistas no Monte de S. Félix, em Laúndos, prevaleceu o gosto e a imaginação do artista,
“tive que criar uma realidade paralela porque eu não dispunha, nem o próprio Dr. Giesteira, de
fotos que documentassem as roupas de época, então seria uma roupa simples como ele
mesmo disse, eram pobres. Eu procurei criar uma textura de um tecido pesado, feito quase
artesanalmente e simplifiquei ao máximo porque o que me importava ali era dar ênfase à
expressão dos rostos, dos movimentos dos corpos”.
SANTOS, Angélica – Deus quis, o homem sonhou, a obra nasceu. A Voz da Póvoa. Póvoa de Varzim:
A Voz da Póvoa, Ano XVIII, nº. 860 (3 Set 1998), p. 2.
JACQUES, Sara – O escultor do monumento ao emigrante. A Voz da Póvoa. Póvoa de Varzim:
A Voz da Póvoa, Ano XVIII, nº. 860 (3 Set 1998), p. 3.
|