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| | Patrão Lagoa. O sonho de ser Cabo-de-Mar Manuel António Ferreira, o “Lagoa”, filho do pescador João António Ferreira e de Rosa Delovina d’Afonseca, nasceu a 14 de Junho de 1866 na Rua do Carvalhido, nº 131, hoje Rua Elias Garcia, e faleceu na Rua do Paulet, nº 13, hoje Rua Patrão Lagoa, em [8] julho de 1919. Era casado com Felisbina da Conceição Ferreira, do ramo dos “Lazeras”, que lhe deu 19 filhos, considerada a maior prole poveira. Pescador, filho de pescadores, teve uma vida difícil. Para sustentar a família, fez um pouco de tudo: foi pescador, amanuense na Câmara, empregado no Teatro Garret, marinheiro na Capitania e Patrão do Salva-Vidas. O seu grande sonho, porém, era ser cabo-de-mar e lutou muito para que tal acontecesse…o que não chegou a concretizar. Passando os dias na Estação de Socorros a Náufragos, uma modesta casa – abrigo que a Irmandade da Lapa construíra junto ao muro poente da Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, como Patrão respeitado e muito prestigiado do salva-vidas “Cego do Maio”, passou a frequentar com assiduidade a Delegação Marítima da Póvoa de Varzim, onde fazia alguns serviços administrativos a título gracioso. Os seus prestáveis serviços, humildade e nobreza de carácter eram enaltecidos pelo Delegado, o Guarda–Marinha António Augusto Costa, seu amigo e protector. […]
Manuel António Ferreira, o Patrão Lagoa, ocupava, assim, o cargo de cabo-de-mar interino, preenchendo a vaga do cabo-de-mar em exercício, o 1º Marinheiro reformado António Augusto, convidado a regressar a Lisboa por abuso do álcool. O Chefe do Departamento, embora reconhecesse o mérito do Marinheiro e Patrão do Salva-Vidas, por lei (falta de habilitações) não poderia colocá-lo nos quadros. Daí ter comunicado à Direcção Geral da Marinha a pretensão do Delegado Marítimo. A mesma Direcção, depois de apreciada a proposta do Delegado poveiro, a dois de Janeiro de 1913 enviou uma importância para liquidação dos serviços prestados até essa altura, a título de gratificação única. Manuel Ferreira, recusando aquela gratificação, fez saber ao Delegado Marítimo que, o que pretendia, era um vencimento mensal fixo e ingresso nos quadros de Marinha como cabo-de-mar, lugar para o qual se julgava apto. […]
Manuel Ferreira, o “Lagoa”, rejeitara o que lhe parecia uma gratificação de piedade para o mandar para casa. O que ele queria mesmo, e fez questão de vincar ao Delegado, era ingressar nos quadros da Marinha como cabo-de-mar para estabilizar a sua vida familiar e profissional. O seu desejo era um ordenado mensal e uma futura reforma como quadro da Delegação Marítima. O que recebia como patrão (200 reis) era muito pouco. De uma vez por todas queria abandonar a pesca onde já militavam alguns dos filhos que, para o governo da casa, juntavam o quinhão da faina dos barcos “São Torcato” e “São José”, às gratificações dos Socorros a Náufragos, quando tripulantes do salva-vidas.
Era tal a paixão pelo salva-vidas e o empenho na sua missão, e tal o desejo de servir a Marinha e prestigiar a Capitania que, ao primeiro toque da sineta para a saída da embarcação chamava os seus filhos Manuel, David e Carlos para o ajudarem. Para os filhos distribuía as tarefas mais difíceis e arrojadas. […]
José de Azevedo – Patrão Lagoa. O sonho de ser Cabo-de-Mar. Póvoa de Varzim, Município da Póvoa de Varzim, 2011, p. 25-28.
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