Inauguração da exposição dia 10 de outubro, sábado, 16h
DIDACTIQUE
Gostava de aproveitar a realização desta exposição para dar alguns esclarecimentos sobre o trabalho do artista pintor. Para muitas pessoas, o artista é uma espécie de génio “à parte”, uma espécie de mito. Temos tendência a colocá-lo num pedestal e a considerá-lo um eleito. Mesmo se muitos pseudo-artistas gostam de cultivar a aparência, de adoptar posturas que os distinguem do comum dos mortais, quero sossegar-vos… é um homem normal!
O verdadeiro artista não é aquele que, muitas vezes disfarçado, se produz nos palcos das televisões ou nas vernissages ao lado dos “críticos” e “jornalistas”, mas é o que trabalha no isolamento do seu atelier. Sim, é um trabalhador normal, como um carpinteiro, sapateiro ou qualquer outra profissão. Não é um ser que espera estar inspirado para enfrentar a tela branca sob um golpe de génio.
O artista é um ser, que tenta, muitas vezes de forma visionária, transmitir ideias, poéticas ou não! Essas ideias surgem através de riscos e vão amadurecendo até ao momento de as transmitir na tela. Há todo um trabalho preliminar que antecede a realização de uma tela: a ideia, os croquis, os estudos e, só depois, a passagem à realização.
Estamos longe dos filmes americanos nos quais o “mestre” surge vestido de negro, com uma barba de oito dias e, depois de umas doses de droga ou álcool, se sente visitado ao soar a meia-noite e bate-se com a sua “obra-prima”. São 10% de inspiração e 90% de trabalho. Se a qualidade da formação estiver lá, bem como a experiência e os anos de prática, podemos estar perante um trabalho sério.
Repito, um artista não é um deus mas um operário normal, que pode vir a ser extraordinário.
Daí também a importância de saber desenhar, para passar rapidamente uma ideia para a folha, de memória. E ainda a importância de aprender as técnicas, para passar do croqui à realização do projecto. Isto pode parecer simples mas representa muitos anos de trabalho e de perseverança. Ser dotado pode ajudar, com certeza, mas não é suficiente.
É tempo de desmistificar: o artista iluminado é um ser normal… um trabalhador!
Estamos bem longe do “mestre”, termo que hoje temos tendência a atribuir de forma apressada a qualquer um.
Esqueçam os curriculum vitae pomposos e muitas vezes sobrecarregados e falsos que vos apresentam… o verdadeiro curriculum está no croqui e na parede!
Abandonem a imagem do artista boémio alcoólico e barbudo que se encontram nos acontecimentos mundanos… os verdadeiros artistas que eu tive ocasião de encontrar durante a minha vida - e Deus sabe se conheço alguns - parecem-se mais com funcionários administrativos do que com actores de cinema e ficam lá no fundo do seu atelier… eles trabalham!
Esta exposição é um bom pretexto para se mostrar aos jovens estudantes os croquis feitos rapidamente, quando uma ideia surge, seja onde for e quando for, e é registada, de memória, e servem de base à realização de uma tela. Esta é uma boa oportunidade para ver o ponto de partida e o resultado, agrupados pelas temáticas das ideias que surgem.
Daniel Hompesch
“Daniel Hompesch é provavelmente o último representante da grande Escola Expressionista Liegeoise do pós-guerra. Um dinossauro, um resistente no seio da Arte Contemporânea”.
Dr. André Renson
Historiador da Universidade de Liège.
Intervenção proferida na Exposição “Bélgica – Rússia” (2009)
De 10 de outubro a 14 de novembro 2015
Na Biblioteca Municipal
Ver também:
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Folheto da exposição
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