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No âmbito do protocolo assinado entre o Município da Póvoa de Varzim e a Fundação Serralves, esteve patente na Biblioteca Municipal Rocha Peixoto a exposição "Da Escrita à Figura - desenhos da colecção da Fundação de Serralves" de 6 de Dezembro de 2008 a 10 de Janeiro de 2009. De acordo com o Serviço de Curadoria da Fundação de Serralves, "Os trabalhos reunidos nesta exposição exemplificam diversas atitudes singulares em relação ao desenho por parte de artistas que o utilizam, seja como um suporte de provocação de códigos de comunicação visual como a escrita ou a representação matemática, seja num exercício diarístico e intimista de problematização do retrato e da representação da figura, seja como experimentação de possibilidades da forma e da ocupação do espaço, nessa relação projectiva e processual que o desenho oferece por exemplo à escultura. Artistas de diferentes tradições, contextos e linguagens confrontam-se ao longo da exposição suscitando curiosas coincidências ou oposições na sucessão das suas obras. Num primeiro núcleo, encontramos reunidos trabalhos de Mirta Dermisache, Ana Hatherly, Jorge Pinheiro e António Sena. Os trabalhos de Hatherly e de Dermisache são exemplares de uma relação entre escrita e imagem que, desde inícios do séc. XX, tem redefinido a condição da obra de arte ao longo do século XX, das experiências dos primeiros modernismos até à emergência da poesia visual e da arte conceptual. Hatherly e Dermisache utilizam a escrita, liberta dos seus significados linguísticos, como suporte de construção da imagem. No caso de Mirta Dermisache, as suas grafias abstractas, reveladas muitas vezes através de edições de artista como jornais e posters, propõem a utopia de um código independente de outros códigos manipulados nas suas convenções ideológicas, como acontece no caso dos órgãos de comunicação social. Jorge Pinheiro edita na década de 70 o álbum “Quinze ensaios sobre um tema ou Pitágoras jogando xadrez com Marcel Duchamp” (1970-74). Os desenhos minuciosos e meticulosos do artista nele apresentados são editados em “off-set”, reconhecido o rigor da reprodução que esta tecnologia oferece em relação às técnicas mais artesanais da gravura ou da serigrafia, então mais frequentemente utilizadas em muitas das edições de artista acontecidas no contexto português. Jorge Pinheiro desenvolve nestes desenhos a série de progressão numérica do matemático italiano Fibonacci, a qual possibilita construção de figuras geométricas como a espiral. Torna-se curioso o confronto desta experiência de Jorge Pinheiro com as obras do artista italiano Mario Merz, o qual desenvolve igualmente a espiral como forma construtiva de muitas das suas esculturas, a partir das séries de Fibonacci. Na obra de António Sena, o desenho é revisitado a partir da inscrição, rasura, composição, evidência e ocultação de uma complexa cartografia de marcas, sinais, escritas e representações. A obra de Sena introduz referências onde a representação de sígnos identificáveis origina uma objectividade surpreendente num processo de apropriação de registros do quotidiano. Numa série de trabalhos de finais da década de 70, o artista apresenta gráficos de barras cujas coordenadas e abcissas resultam em ritmos de alturas e densidades variadas, estatísticas abstractas sem referentes, cuja mensurabilidade se regista através de números, linhas, notas dispersas, rasuras e grafias para além de qualquer legibilidade. Num outro núcleo da exposição encontramos desenhos da autoria de Sigmar Polke. São trabalhos de natureza quase diarística, registos de ideias e de projectos marcados frequentemente pelo humor e pela irisão. Os desenhos de Polke, provenientes dos seus cadernos de notas de finais da década de 60, constituem anotações de projectos que nessa altura o artista concretizaria nas suas pinturas ou esculturas subversivas e irreverentes, como acontece no caso do projecto da sua famosa “Casa de Batatas”, aqui apresentado. “Da Escrita à Figura” desenvolve-se num conjunto de momentos representativos da obra em desenho de artistas cujo confronto não é óbvio nem depende de gerações, filiações, influências ou analogias manifestadas nos seus trabalhos. Em todas eles, o desenho surge como um questionamento do seu fazer de artistas, na intimidade do confronto que suscitam no contexto da Colecção da Fundação de Serralves, assim como de outras colecções institucionais e privadas que nela se encontram em depósito." Comissariado: João Fernandes
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