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Vasques Calafate [1890 - 1963]

Vasques Calafate [1890 - 1963]

[ Biografia ]

[ Vibrante Discurso, por João Marques ]

[ O homem poveiro, por J. S. Marques ]

[ Bibliografia ]

[ Sobre Vasques Calafate ]

[ + personalidades ]

 
Vasques Calafate, por José de Azevedo

VASQUES CALAFATE
por José de Azevedo
O Comercio da Póvoa de Varzim, (20 Nov. 2008), p. 2.

No “Café da Guia” de 30 de Outubro último, lembrei o aparecimento da Marítima, associação de socorros e auxílio a pescadores desfavorecidos, e da importância dos poveiros repatriados na sua transformação em Casa dos Pescadores Poveiros, a primeira associação no género em Portugal. Hoje, como adenda complementar e com inteira justiça, iremos recordar o homem que ergueu o amplo e moderno edifício-sede da instituição, o dr. Caetano Vasques Calafate, um dos vultos poveiros mais marcantes do século passado. Para além de ser o “pai” da Casa – na verdadeira acepção da palavra – registe-se, ainda, o seu papel determinante na conclusão do porto de pesca. Duas situações que a comunidade piscatória não esquece, dedicando-lhe palavras de afecto e de muita gratidão.

A Associação Marítima dos Pescadores Poveiros, fundada a 24 de Dezembro de 1921 com o propósito de auxiliar os pescadores mais necessitados, acolhê-los na sua velhice e amparar as famílias vítimas de naufrágios, reunia na sede do Montepio, (hoje Filantrópica) sem condições para a instalação de um serviço de saúde, nem de enfermagem, nem lar para pescadores idosos. Havia, pois, que erguer uma “casa” construída de raiz e procurar um terreno para esse fim. Só que, dirigida por homens do mar, a “Marítima” vivia acomodada nas suas acanhadas instalações emprestadas. Nem os pescadores se interessavam muito em mudar de sede, nem o dinheiro abundava nos cofres para casa própria. Por parte da administração do concelho também o caso morria ali. De acordo com a filosofia municipal, se a Marítima pretendesse acolher algum pescador idoso e sem posses, podia bem recorrer ao Asilo da Misericórdia ou Beneficente.

Contra este não-te-rales da comunidade piscatória e desinteresse da administração do concelho, levantou-se a voz de Vasques Calafate, humanista, professor do ensino superior, pedagogo, jornalista e homem de letras, um lutador pelo porto de pesca e pela promoção e melhoria de vida dos pescadores poveiros, desamparados na doença, invalidez e velhice. Recorde-se que na primeira vintena do século passado a comunidade piscatória, sobretudo a que residia no bairro sul, vivia no limiar da pobreza. Era preciso que alguém lhes prestasse assistência, lhes desse instrução e matasse a fome. Era preciso construir uma sede para os seus pescadores incapacitados pela velhice, um local que lhes desse conforto, alimentação e esperança de vida. Uma casa onde a família dos mais pobres se sentisse acarinhada e onde não lhes faltasse vestuário, agasalho, assistência médica, farmacêutica e também religiosa.


O PAI DA CASA DOS PESCADORES

Homem de fibra, poveiro de antes-quebrar-que-torcer, apaixonado pela comunidade piscatória com quem convivia paredes-meias frente ao mar, emérito jornalista e orador fluente, Vasques Calafate inicia uma campanha para a construção de uma Casa de Pescadores ampla e digna, onde o lobo-do-mar abandonado à triste sina de desprotegido pelo poder, tivesse um fim de vida com o mínimo de carinho, conforto e bem-estar. Depois de ganhar adeptos na “Marítima”, faz um apelo nos semanários locais para que a Póvoa contribuísse para a Casa-Mãe a que os pescadores tinham direito. Uma campanha vigorosa que lhe trouxe um chorrilho de dissabores e algumas manifestações de despeito estampados em letra de imprensa. A sua pena acutilante, porém, arrasa os detractores, demonstrando à evidência o interesse de uma Casa-Abrigo para uma comunidade piscatória que vivia na miséria.

A sua militância de visionário, desafiando o poder instituído, era uma espécie de luta entre David e Golias. Só que este David tinha resposta pronta para fazer calar muitos inimigos da ideia, que, à falta de melhor argumento, lembravam as instituições de caridade já existentes como soluções mais económicas para o pobre pescador de idade avançada, pesado encargo para uma família que sobrevive do mar. Foi de escacha pessegueiro a polémica que manteve com um conhecido sacerdote poveiro colaborador da “Tradição” (jornal monárquico), uma luta de galos entre dois prestigiados jornalistas, em que o sábio professor levou a melhor.

A campanha a favor de um edifício de raiz para a Casa dos Pescadores – o grande sonho de Vasques Calafate – ultrapassou o imaginável. Em linguagem popular pode dizer-se que “foi uma coisa do outro mundo”. Uma onda de solidariedade gigante que não só sensibilizou os poveiros dos quatro cantos do Brasil, como gente de todo o concelho da Póvoa e do Norte do país. Numa conferência sobre o tema no Teatro São João, no Porto, o ilustre pedagogo poveiro foi aplaudido de pé pela assistência que lotava aquela casa de espectáculos.

Em nome da Associação “A Marítima”, viajando no automóvel do seu amigo João Pereira Dias, na companhia de Justino Sá, Vasques Calafate percorria as aldeias da Póvoa, e algumas de Vila do Conde, divulgando a sua cruzada. E pode dizer-se que a caravana “levou a carta a Garcia”. Sensibilizados pela obra, os lavradores ofereciam o que podiam. José Martins André, de Aver-o-Mar, por exemplo, ofereceu 50 carros de pedra, postos no local da obra; o vereador António Gonçalves dos Santos (Amorim), José do Nascimento (Terroso), José Gomes Ferreira Sandim (Terroso), Manuel Francisco Alves (Aguçadoura), António Lopes Oliveira e Silva (Beiriz) e Domingos Torres de Almeida Brandão (Beiriz), contribuíram com pinheiros e respectivos carretos. Manuel Bento, da Póvoa, encarregou-se da direcção e fiscalização da obra. As freguesias organizaram um cortejo de oferendas. De Aveiro, as fábricas de “Quintans” e do “Fojo”, ofereceram dois milheiros de telha “Marselha” e todo o cimento necessário com o transporte gratuito da Companhia dos Caminhos de Ferro. António Ferreira Sousa Torres, capitalista de Bagunte, Vila do Conde, ofereceu dois magníficos eucaliptos, e José Ramos, de Modivas, também de Vila do Conde, ofereceu oito toneladas de pinheiros. De Moçambique, Brasil (Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Luiz de Maranhão, Manaus e Rio Grande do Sul) e da América do Norte, chegavam gordos donativos. O ousado empreendimento “sonhado” por Vasques Calafate erguia-se mercê de muita generosidade… e amor à classe piscatória. A cobertura do edifício coube aos carpinteiros Manuel Vieira Trocado e Francisco Amaro. O Provedor da Misericórdia, João Gomes Castro, fez um importante legado e centenas de beneméritos surgiram de onde menos se esperava. O Governo contribuiu com 15 contos. Os pescadores (cerca de 2.000, em 1923) matriculados na Póvoa foram obrigados, por lei (sugestão do Comandante Alberto Jacques, Capitão do porto), a inscreverem-se como sócios da Casa dos Pescadores. A certa altura, com a obra a desenhar-se graciosamente frente ao mar, já toda (quase) a Póvoa estava de acordo com a construção do edifício-sede da Associação “A Marítima”.


A INAUGURAÇÃO

A 1 de Janeiro de 1927 (oito meses antes da data prevista), em sessão solene de grande brilhantismo, era inaugurada provisoriamente a Casa dos Pescadores, a primeira construída até aí em Portugal (só dez anos depois o Governo pensou em instituições do género distribuídas pelo litoral). Após muito trabalho, luta, determinação e pertinácia, estava concretizado o sonho de Vasques Calafate, a construção da Casa dos Pescadores Poveiros, uma instituição benemérita que mereceu da população os mais rasgados elogios e da colónia piscatória lágrimas de gratidão. No discurso inaugural, o professor universitário Leonardo Coimbra, que arrebatou e, ao mesmo tempo, comoveu a assistência, disse a certa altura:

“A Casa dos Pescadores é um sonho realizado. O mundo é um sonho divino foco do amor criador. Há sonhos estéreis, mas este da Casa dos Pescadores é antes uma obra de Justiça, Amor e Saudade, a trilogia que ela representa”.

Seguiram-se discursos de autoridades locais e governamentais, todos eles enaltecendo a obra e destacando, sobremaneira, o acrisolado amor bairrista de Vasques Calafate. Oficialmente inaugurada a 19 de Agosto de 1928, o povo pôde visitar as instalações da Casa, que, surpreendentemente, reunia todos os requisitos de comodidade e higiene. Hoje poderia dizer-se, com pouca margem de erro, que se comparava a um “Hotel Cinco Estrelas”. Salas amplas bem arejadas, destacando-se o dormitório dos homens com 30 metros de comprido e oito de largura, com 17 janelas, altas e largas, onde a luz entrava a jorros; dormitório de mulheres, enfermaria, refeitório, sede da Associação ”A Marítima” e hall de entrada. Na cave, com 690 metros quadrados, situavam-se a cozinha, um segundo refeitório, quartos de banho, sanitários, arrecadação, rouparia e dispensa. Do livro “Verbo, Vigor e Acção”, de Vasques Calafate, respigamos o que ele diz sobre a galeria virada para o mar, espaço que os pescadores idosos procuravam para o seu convívio diário: “Virada a poente, em frente à barra, uma vasta galeria envidraçada, de 10 metros de comprido por três de fundo, dá à Casa dos Pescadores Poveiros – atendendo à situação topográfica – todo o aspecto de um sanatório marítimo. Será esse, nos dias frios de Inverno, o mirante de saudade dos velhos lobos-do-mar, olhando ao longe a romaria dos barcos sobre aquelas águas da sua perdição. Poveiros: de toda a minha alma – feita de maré cheia das vossas lágrimas – vos imploro ardentemente, como vós costumais fazer na procissão da vossa padroeira, a Senhora da Assunção: Quem se lembra da Casa dos Pescadores com a sua bendita esmola!”

A Casa dos Pescadores Poveiros, em 1937, serviu de modelo às Casas dos Pescadores criadas pelo sistema corporativo da altura. Em 1941, no tempo do capitão-tenente Adriano Coutinho Lanhoso, capitão do porto (1938-44), um “obcecado” pela dinâmica e projecção da Casa, (acabando por ser presidente de direcção), para onde inventava e canalizava muitas verbas oficiais e particulares, a Casa dos Pescadores orgulhava-se de possuir clínicas especializadas para operações de grande e pequena cirurgia, gabinetes de radiologia, hospitalização, análises e fornecimento gratuito de medicamentos; possuía uma creche, uma sala-maternidade (o primeiro bebé a nascer na Casa dos Pescadores chamou-se António, nasceu a 11 de Setembro de 1942, e era filho do pescador António Regufe e de Ana Pereira Marques) duas escolas primárias, Casa de Trabalho e Asilo (Lar da Terceira Idade) assistido por religiosas. Registe-se que na Casa de Trabalho, as alunas aprendiam corte e costura, enfermagem e serviços domésticos. Era uma espécie de escola profissional com horários e um pequeno salário diário; ao meio dia eram elas que preparavam os seus almoços praticando assim os conhecimentos adquiridos. Com as suas relações de prestígio, o Comandante Lanhoso, com uma actividade infatigável, não só fez da Casa um exemplo nacional como alimentou, assistiu, acarinhou e protegeu muitas famílias piscatórias de parcos recursos.

Se o dr. Vasques Calafate foi o pai e obreiro do moderno e amplo edifício da Casa dos Pescadores, o seu desenvolvimento e obra social, deve-se à iniciativa e trabalho dedicado do Comandante Coutinho Lanhoso, continuador de uma obra de alcance social gigantesco. É de inteira justiça acrescentar o seu nome no Livro de Honra da Casa, assim como caberá num cantinho muito especial João Cadilhe, o sr. João Respeito como era carinhosamente conhecido, chefe de secretaria da Casa durante muitos anos, servindo-a com o maior empenho e dedicação.




 
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